Page 23 - Telebrasil - Julho/Agosto 1965
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SU PLE M E N TO DE JULHO E AGO STO

ANO VI          D l VI LU ADO PELA          N.o 65/66

FEDERAÇAO DAS ASSOCIAÇÕES DE EMPRESAS DE TELECOMUNICAÇÕES DO BRASIL.

RIO DE JANEIRO  41 LHO E AGOSTO — 19«",     D 1STlí IBLTÇAO IN TERNA

        O FANTASMA DA SKGFRANÇA NACIONAI

                                                                               EUGÊNIO GUDIN

                                                                                      “O G lobo”, Rio, 12-7-65

   Os que me distinguem com a lei­       por exemplo, também supre, através
tura habitual dêste3 artigos sabem do    de seus representantes no Congresso,
aprèço que sempre manifestei pe'.a dig­  um apreciável contingente de nacio­
nidade e pelo desprendimer '.o com que   nalistas estatizantes, pela natural rea­
as Forças Armadas têm exercido a         ção de uma região do País onde o em ­
função de guardiãs das instituições
políticas nacionais.                     preendedor, e mais ainda o estrangeiro,

   Mais de uma vez tenho expressado      são alvo de marcada suspeita. M as o
a opinião de que o Poder Moderador       prestígio e a influência de que gozam
do Imperador foi a mais sábia das ins­   as Forças Armadas, não só pela justa
tituições políticas da Monarquia e que   presunção de sua identificação com o
com o advento da República as Forças     interesse nacional, como por seu poder
Armadas, como herdeiras naturais dès-    político potencial e pela ocupação, ge­
se Poder, o tem exercido, salvo rara     neralizada desde a Ditadura, de pos-
exceções, do modo o mais honroso para    tos-chave na administração das au­
                                         tarquias e emprêsas estatais, dá uma
nossos foros de pais civili2ado.         importância especial a suas m anifes­
                                         tações.
    Não tendo jamais tido qualquer de­
                                             O principal defeito da mentalidade
pendência dessas Forças nem alimen­       militar, no seu modo de encarar os
tando ambição política de qualquer es­    problemas nacionais, decorre da pró­
pécie. ésses meus conceitos se revestem   pria natureza de sua formação, alheia
da maior independência e absoluto de-     ao ambiente em que se trava conheci­
sinterêsse.                               mento e se adquire experiência do tra­
                                          to direto dèsses problemas. A form a­
    Sinto-me portanto à vontade para
levantar sérias restrições ao espiri­     ção militar é — e deve ser — a de uma
 to de estreito nacionalismo e de de­     escola de caráter e de culto do pa­
 formação profissional com que uma        triotismo — afastada, é verdade, de
                                          influências espúrias, mas afastada
 parte relevante das Forças Arm a­        também, do laboratório em que se fo r­
  das, sobretudo do Exército, enca­       jam o progresso e o desenvolvimento
 ra os problemas nacionais, em de-         económico do Pais. É êste afa sta­
 •trimento das soluções que melhor        mento que explica a suspicácia gene­
 consultam os interésses do País. Não      ralizada contra os agentes da inicia-
 têm elas o monopólio dèsse nacio­
 nalismo mal entendido. O Nordeste,
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