Page 29 - Telebrasil - Setembro/Outubro 1964

descortês?” Mesmo que o argum ento
fôsse bom, eu tinha o meu e repli­
quei — “m uito bem, mas vocês traba­
lham somente em média seis horas por
dia” (face ao excesso de empregados
há revezamento de horários, para se­
rem todos aproveitados) . A superviso­
ra . uma enérgica quarentona, não se
deu por achada e me respondeu — “São
os regulamentos do s i n d i c a t o A í
jornalista fechou o bico, já que seme­
lhante alegação com peliu a emprésa
muitas e muitas vézes a se m anter em
silêncio.
Enquanto matutava sôbre a entrevis­
ta dessa tarde, atendi uma chamada te­
lefônica. A telefonista, após verificar o
número do meu telefone, com unicou-
me simplesmente: “o senhor tem 10 dias
para pagar a conta” — e desligou. M i­
nha m u'her com entou : “ essa conta já
oi paga no com éço do mês, mas sis­
tematicamente costumam cham ar pa­
ra dar ezsa com unicação” .
Tenta amabilidade me assombrou e
quando ia dizer “quanta gentileza”,
occrreu-m e uma idéia aterradora. Abri
c lista telefónica e com ecei a contar e
calcular. Havia 460 nomes em cada pá­
gina e 1.527 páginas nos dois volum es;
quer dizer 702.420 assinantes.
nando repetições e anúncios ( 15%)
7 estavam uns 600.000. Estim ando que
ccda notificação precisasse de um m i­
nuto. para demora em atender à cha­
mada, aviso, discussões etc., con clu i-
se que são necessárias 10.000 heras pa­
ra avisar aos assinantes que paguem
as contas. Como cada telefonista tra ­
balha seis horas por dia, por més se
perdem 1.666 dias de trabalho. Assim
se explica porque as telefonistas não
têm tempo nem vontade de avisar aos
coitados dos assinantes se o núm ero de
um telefone fo i mudado, onde mora o
médico da redondeza ou a diferença
de horas entre Asuncion e Buenos A i­
res. Ê com razão que as linhas vivem
ocupadas, pois a própria com panhia
cs sobrecarrega para lem brar as pes­
soas que desembolsem dinheiro.
No mundo, a Argentina figura com
o maior número de chamadas anuais,
com exceção do Brasil (3.075 por tele­
fone) . Na América Latina, em propor­
ção à população, o melhor índice quan­
to ao número de aparelhos < 6,48 por 100
habitantes), Uruguai (6,11 por 100 ha­
bitantes) e Venezuela (2,90 por 100 ha­
bitantes) .
o
Considerando que as comunicações
de Buenos Aires com La Plata, cidade
distante só 50 quilômetros, têm 4 ho­
ras de demora e que dentro da cida­
de é um custo para obter ligação, é
explicável que o comércio se utilize de
florescente serviço de mensageiros, pa­
ra recados. A ENTEL deixa de arre­
cadar milhares de peso por mês, des­
cuidando o consêrto dos aparelhos pú­
blicos e a coleta das caixas abarrota­
das de moedas <muitos são os usuários
que, pretendendo em vão usar ésses
aparelhos, depois de darem furiosas
pancadas, sairem com os bolsos cheios
de m oedas).
Faz uns meses que, paradoxalmente,
numa experiência acidental, um dos
meus colegas chamou um número em
Comodoro Rivadávia, cidade petrolífe­
ra situada a 1.900 quilômetros da ca­
pital. Falou com a pessoa procurada,
E lim i­
tomou apontamentos, enquanto eu pro­
curava em vão telefonar para casa,
que fica no subúrbio, para avisar que
trabalharia até mais tarde. Há casos
de chamadas a diversas partes do con­
tinente que se completam em minu­
tos e com cristalina clareza, enquanto
se torna inútil pretender comunicar-se
com pessoas a poucos quilômetros de
Buenos Aires.
A despeito de tudo. os argentinos,
como todo povo com nobres aspirações,
continuam tentando comunicar-se com
o p róxim o... pelo telefone.
Não devemos esquecer de salientar
que o custo de uma assinatura tele­
fônica é camarada, uns três dólares
mensais e alguns tranquilizantes úe
quando em vez.