Page 27 - Telebrasil - Setembro/Outubro 1964

interessantes da terra. Por suas am­ la” e estão sempre colocados de tal

plas avenidas, sua elegância, sua va­ maneira que uma pessoa de estatura

riada arquitetura e seus anúncios lu­ média, só pode falar néles pondo-se na

minosos, é conhecida como "Paris do ponta dos pés. Agora, o difícil é con­

hemisfério sul” . Mas assim como Pa­ seguir que a telefonista atenda ao cha­

ris tem o inconveniente de que seu sis­ mado; quando finalmente o faz, dando

tema de encanamentos pertence à épo­ a impressão de achar-se a uma dis­

ca napoleónica, Buenos Aires padece de tância de milhões de anos luz, o tru­

um serviço telefônico capaz de pertur­ que consiste em berrar o número de­

bar o sono eterno de Alexander Gra- sejado com tanta força e tão lenta­

ham Bell. Entre os sistemas de comu­ mente quanto possível. Com sorte, na

nicações, é notório por ilógico, inefi­ quarta ou quinta vez se ouvirá um en­

ciente e enlouquecedor. Constitui um surdecedor chiado metálico, indicio de

repto ao entendimento, um desafio à que ' a ligação está pronta. O tênue

brandura. Em geral, o argentino é um balbúcio que se ouve no outro extre­

ser perfeitamente racional e amável mo da linha, sem dúvida, é a almeja­

com seus semelhantes. Somente quan­ da resposta.

do fala pelo telefone é que sinais de Mas quando a gente começa a com­

histeria aparecem na sua voz e cris­ preender o assunto, a telefonista entra

pam-se-lhe as mãos num desesperado •ia linha para perguntar se a conver­

esforço para se controlar. Na reali­ sação está terminada, e quando res­

dade o telefone é o simbolo vivo da pondemos negativamente, ai já nada

ineficiência para o argentino, seja do mais é possível fazer, pois começa de

campo ou da cidade. 71ÔV0 o chiado metálico.

Para quem ganha a vida trabalhan­ Perto de Venado Tuerto, pequena ci­

do num escritório, a iniludível pers­ dade de uma rica zona agrícola da

pectiva diária de ter que utilizar o Província de Santa Fé, o malfadado te­

aparelho telefónico, é um inferno. Sa­ lefone tem contribuído para a volta

be que durante as horas de trabalho dos pombos correio. Os fazendeiros,

receberá pelo menos uma dúzia de concluindo que não era possível a co­

chamadas "Engano”, e que centenas de municação pelo telefone, com o Centro

tentativas para falar com o Banco ou de Inseminação Artificial, com a pres­

o agente da Bôlsa resultarão em sinal teza necessária, resolveram apelar para

"ocupado”, apenas disque o prim eiro os pombos correio que o Centro passou

cu segundo digito da numeração de­ a distribuir, com distintivos do identifi­

sejada; e quando conseguir a ligação, cação correspondentes a cada fazenda

interromperá a conversa de alguém ou de gado. Em chegando a ave ao Cen­

será atendido por uma lavanderia lo­ tro, depois de identificada sua proce­

calizada no outro extremo da cidade. dência, um técnico vai de automóvel

Ouiro dia, nosso escritório recebeu três para a fazenda, levando o material re­

chamadas de alguém que desejava com ­ quisitado e um pombo sobressalente.

prar queijo, e como era óbvio que a “Assim nós economizamos anualmen­

pessoa nunca conseguiria ligar para a te milhares de pesos” — diz um fazen­

desejada "casa de frios”, nosso empre­ deiro, olhando triunfante para o seu

gado tomou nota da encomenda, so­ telefone.

lícito. dizendo: “ Sim senhor, 250 gra­ Com tempo bom, o telefone é teimo­

mas do queijo que lhe enviamos na se­ so e recalcitrante... mas quando cho­

riaria passada; lógico sen h or... e tam ­ v e ... somente produz assobios, chia­

bém o salaminho” . dos e longos silêncios. Buenos Aires

A gente que vive no campo, também fica incomunicável com o resto do

tem seus problemas. Os telefones ru­ mundo, inclusive com seus próprios su­

rais, na sua maioria, são de “ manive­ búrbios, segujido após a queda das pri-