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A T0LEI1ANCIA PELA INFLAÇÃO
O Globo — Rio — 27-13.67
Eugênio Gudin
O Brasil é um país (ou uma casa) do Em recente conferência pronunciada na
muita tolerância pela inflação. Economis Confederação do Comércio, disse o Profes
tas desinfarmados não hesitam por vêzes sor Otá\io Bulhões com a experiência hau
om manifestar sua descrença no efeito de rida de uma lida prolongada o"m a hidra:
letério da inflação sôbre o desenvolvimen «Com a inflação desapareceu o crédito
to econômico. A razão é simples, é que público. Impunha-se seu restabelecimento,
êsse efeit» não pode sor evidenciado pelo como meio dte libertar os investimentos
paralelismo, ano a ano, do grau de inflação governamentais da exigência tributária.
e da taxa de desenvolvimento. Não há Com a inflação foram varridos do sis
proporcionalidade ANUAL entre uma coi tema bancário os depósitos a prazo, exce
sa e outra. Isso eu já dizia em trabalho lente fonte de barateamento do crédito co
apresentado à International Economic mercial .
Associaticm em 1959 (Elsinor) . Com. a inflação foi obstado o lança
A pressão inflacionária em determina- mento das debêntures, magnífico meio de
nado ano não se faz sentir necessariamen captação de recursos, cm complemento ao
te sôbre a taxa de desenvolvimento dêsse capital acionário.
mesmo ano; pode o efeito ter sido até fa Sob o impacto inflacionário, ninguém
vorável, se havia fatores de produção não se aventura a comprar títulos de renda
aproveitados. fixa, nem a fazer depósitos a prazo. O ca
A inflação do ano 1 vai repercutir no pital emprestado ou depositado é corroido
desenvolvimento econômico dos anos 3, 4, pela acão inflacionária».
5 ou mais. As recessões que tivemos de «O Governo, a.o assumir o poder, em
enfrentar em princípios de 1965 e fins de abril de 1964, encontrou o País com enor
1966, e que contribuiram para a queda da me deficiência de energia elétrica, de telefo
taxa de desenvolvimento nesses dois anos, nes; perigosa escassez de residências; alar
são debitáveis aos Kubitcheks e aos Gou- mante insuficiência de produção agrope
larts, que fizeram a inflação de 1957 a cuária. Eram os setores da atividade eco
1964. Não há portanto como procurar cor nômica que vinham sofrendo os deletérios
relações «de ano a ano», ou de um ano pa efeitos da INFLAÇAO REPRESADA.
ra outro. Amedrontados os govêrnos anteriores Om
Isso explica como um economista do cg efeitès de uma inflação que não tinham
valor do professor Delfim Neto pode ter di i\. coragem de eliminar, julgaram preferí,
to que vel CORRIGIR OS EFEITOS EM VEZ
«Na verdade, entretanto, o estudo da DE ATACAR AS CAUSAS. Determina
história econômica oferece os exemplos ram o congelamento dos preços da energia
mais contraditórios de estagnação, com elétrica, dos aluguéis e de alguns produ
ou sc-m inllação, de inflação com ou sem tos da agricultura e da pecuária, Em re
desenvolvimento». sultado dêsse procedimento, havia em
1964, racionamento de energia elétrica; fa-
Outro elemento que contribui podero ziam-se filas intermináveis para a aquisi
samente para estabelecer a confusão é co ção de produtos agropecuários e a habita
mo diz o ilustre economista Rómulo Fer- ção achava-se em contraditória crise: enor
rero, que me procura de residências, a par de com
«Podem-se mostrar as obras construí pleto desestimulo à construção».
das em uma política de inflação mas não Essa escassez de energia elétrica, de
se podem mostrar as que deixaram de ser telefones, de residências, de produtos da
feitas por i>ua forçosa redução em outros Agricultura e da Pecuária, bem como as
campos» distorções dos investimentos, de taxas do
e também que, juros, etc., a que Bulhões se refere, resul
«Quando se diz que a inflação retar tam da inflação de Kubitseheek e Goulart
da o desenvolvimento ccnnômico, não se PRATICADA ANOS ATRAS. NAO SAO
quer dizer que o anula. Um país que so EXPLICÁVEIS A BASE DE ANO PARA
fre um pdtecesso de infjiçáo não deixa ANO.
por isso de se desenvolver MAS FÃ.LÒ Daí as deformações ópt-cas de que são
A UM RíTMO MAIS LENTO E A UM vítimas os observadores menos avisados.
CUSTO mais elevado e corti maiores sa- Os males (pie disso podem advir para o
crifícirb do que outro país em que não país são por demais séries para que não
se segue tal política». se dê, em tempo útil, o sinal de alarma.