Page 50 - Telebrasil - Agosto/Setembro 2002
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LTIMA PÁGINA




                              A h ,   p o r   q u e   n ã o   n a s c i




                             como estas pedras?"




                      Cleofas Uchôa


                      maior holocausto do Planeta   tão sendo impiedosamente assassina­  poder, mas, o tema nacional, o tema
                     ocorreu  há  2  bilhões  de   dos nos pátios das escolas primárias!   de um povo, exige, pelo compromisso
              O anos. Naquela época, quase    Como tivemos tamanha capacidade de   e responsabilidade com esforço mile­
              não existia oxigênio na atmosfera e na   perverter a prioridade  inquestionável   nar de nossa gênese, que a educação
              Terra  viviam  organismos  que  respi­  da educação fundamental? Estamos a   básica seja seu objetivo fundamental.
              ravam basicamente o hidrogênio. No   colocar nesta nave espacial  chamada   Subjacente à educação estão a ali­
              decorrer do  tempo,  surgiram  micro­  Terra  computadores  sem  software,   mentação,  a  saúde,  a  habitação  e  o
              organismos  que,  respirando  também   desprovidos da capacidade do deslum­  controle da natalidade. Mas os temas
              hidrogênio, exalavam como resíduo de   bramento e da responsabilidade com   nacionais  prediletos  do  parlamento,
              seu metabolismo o oxigênio, na época   o espólio de nossa gênese.  O destino   das lideranças de todas as cores, estão,
              perigoso poluente. Alguns microorga­  dos infantes será a miséria e a tristeza   entretanto, diabolicamente concentra­
              nismos  reagiram a tal contaminação,   de viver, que o transformarão em pe­  dos no egoísmo do curto prazo de al­
              inventando dispositivos intracelulares   riféricos do Planeta, até o momento da   gozes  travestidos  de  santos,  funda-
              e  um  processo  metabólico  que  tirou   extinção. Já temos milhões de vítimas   mentalistas  “Ad Majorem  Gloriam
              partido do nocivo oxigênio, passando   fatais,  drogados  para  aliviar  a  dor e   Dei", libertadores e salvadores, enri­
              a respirá-lo. O holocausto do oxigênio   encurtar o sofrimento,  desesperança­  quecidos na especulação da Bolsa e
              destruiu todas as formas de vida pre­  dos, apodrecendo com malabarismos   que vão nos dizimar.
              existentes, respiradoras de hidrogênio,   medíocres  pelas ruas, ou  aparecendo   Um projeto apartidário, simbióti­
              salvando-se somente  aque­              cadavéricos  zumbis raquí­  co, de longo prazo que transcenda os
              las que se adaptaram à nova   "Os talentos   ticos,  nas janelas  de ricos   mandatos políticos é  imprescindível
              atmosfera de oxigênio e, aí,            automóveis, de mão esten­  para  enfrentarmos  o  desafio  do
                                       do povo são
              a natureza, não se contendo             dida,  com lágrimas treina­  holocausto.
                                       assassinados
              mais,  acabou  por  criar  a            das.  Insensíveis,  travamos   Porém,  muito em  breve, seremos
                                      nos pátios das
              espécie humana!                          as  portas  e  fechamos  as   200 milhões de  brasileiros!  Nesta  si­
                                        escolas..."
                 Com o despertar da cons­             janelas  de  nossos  carros,   tuação teremos mais de 80% da popu­
              ciência, foi dado início a um           com  ares  de  repugnância,   lação na mais extremada miséria e ig­
              novo tipo de holocausto, o da falta de   desprezo e medo, e sem a coragem de   norância, fazendo os arrastões finais.
              cultura, o acontecimento mais cataclís­  olhar  para  os  olhos  e  as  faces  de   Os líderes da sociedade ou acor­
              mico depois do holocausto do oxigênio.  esperanças  frustradas  dos  sofridos   dam de seu displicente, inconsequente
                 Se um povo convive com a igno­  infantes mendigos.           e  perverso  sono de desatenção e to­
              rância e a miséria em ascensão, tor­  O impune assassinato das crianças   mam ação imediata para impedir que
              nar-se-á presa fácil dos arroubos dos   deve terminar. A educação básica tem   o massacre das crianças continue, ou
              despotismos ou dos desmandos cana­  que  estar  no  topo  das  prioridades.   terminaremos  uma jornada  longa,
              lhas, que sempre encontram refúgio   Nossas crianças não votam e, por isso,   envergonhados  e  humilhados  por
              na  salvação  patriótica  ou  na  razão   ninguém as acode no seu surdo grito   sermos  os  assassinos  daqueles  que
              de  Estado,  elaborando  previsões   de socorro, jogando bolinhas ou engu-   não são culpados. E aí, só nos restará
              econômicas  astrológicas;  os  mas­  lindo fogo nas esquinas das cidades.  dizer, como Quasímodo,  olhando as
              sacres tornar-se-ão inevitáveis.   Há que se cuidar, é verdade,  dos   paredes de Notre Dame: Ah! Por que
                 O que é pior? A droga, a violência   problemas do cotidiano, dos conflitos   não nasci como estas pedras?
              ou a vergonhosa qualidade do ensino   do curto prazo, dos interesses do di­
                                                                              Cleofas Uchôa é presidente da TELEBRASIL -
              básico? Os talentos de nosso povo es­  nheiro,  do  prazer,  das  eleições  e  do  Associação Brasileira de Telecomunicações.
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