Page 35 - Telebrasil - Abril/Maio 2002
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Discórdias  .  .

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       Tarifas  de  interconexão  e

       subsídios  cruzados  acirram  os

       ânimos  entre  as  operadoras.





         Os tempos de vacas magras parecem ter   xas  da Embratel e  da
       criado um clima de “caça às bruxas” no   Intelig ao  comentar a
       setor de telecomunicações. Nesse contex­  existência de subsídios
       to,  a alegação  de  distorções  nos  preços   cruzados entre as ope­
       de interconexão e  de incidência de sub­  radoras.
       sídios  cruzados são os principais fatores   -  Subsídios existem                                             3

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       de  divergência entre  as operadoras.  Em   na  longa  distância
       abril, a Embratel e a Intelig entraram com   para  local,  de  local
       uma  representação  contra Telemar, Te­  para móvel e, no serviço  móvel, para os   mos dois anos serão um período de tran­
       lefónica  e  Brasil Telecom,  para  que  a   clientes  pré-pagos  -   afirmou  Pauletti,   sição -  raciocinou Guerreiro. O então pre­
       Agência  a reenvie  ao  Conselho  Admi­  lembrando da necessidade do setor rever   sidente em exercício da Agência, Antônio   TELEBRASIL/abril-maio
       nistrativo de Defesa Econômica -  Cade.   tais práticas.                Carlos Valente, citou como exemplo das
       A alegação é de desvio de ordem econô­  Sobre o assunto, Ernesto Flores-Roux,   distorções o fato de que as tarifas cobra­
       mica nas  tarifas  de interconexão, basea­  diretor-sócio do grupo McKinsey, foi ca­  das na rede fixa, no Brasil, estão acima da
       da  em  um  estudo  encomendado  ao   tegórico. “A ausência de subsídios cruza­  média européia (USS 0,013 a USS 0,016).
       Boston Consulting Group. O documen­  dos  inviabilizaria  economicamente  o  Já  no  caso  das  redes  móveis,  situam-se
       to, que  analisou  o balanço  de 2001  das   SMC como  ele  é concebido  hoje”, sen­  abaixo  da média da Europa (USS  0,014
       três  operadoras, teria constatado  que  as   tenciou.  Para Renato Guerreiro, ex-pre­  contra USS 0,011 no Brasil).
       operações de longa distância de todas elas   sidente da Anatei, a origem dos desequi­  Especialista  no  assunto, o  diretor  de
       têm  rentabilidade  de  fluxo  de  caixa ne­  líbrios  atuais  estaria  na  metodologia  de   Teleinformação  da  Universidade  de
       gativo, na média, de 14,2%.         interconexão criada em 1998, oriunda de   Columbia  (EUA),  Eli  Noam,  afirmou
         -  Isto demonstra que as operadoras lo­  um sistema monopolista.      que, dos sete mecanismos existentes para
        cais dão descontos na tarifa de uso de rede   -   Este  modelo  premia  as  empresas   definir os valores de interconexão, o mo­
        local para suas operações de longa distân­  ineficientes, que  recebem  um  percentual   delo E fficient Component Pricing é o mais
        cia,  caracterizando  prática discriminató­  maior  da  receita da  longa  distância, en­  adequado à conjuntura do setor ao pro­
        ria; ou que a operação local está subsidi­  quanto as empresas eficientes ficavam com   por a existência de uma tarifa fixa previa­
        ando a longa distância para compensar o   a menor parcela -  reconheceu Guerreiro.  mente combinada e  outra variável, paga
        déficit, o que também é ilegal, por carac­  O sistema também prevê um mecanis­  por  minuto  de  interconexão. A  dificul­
        terizar  subsídio  cruzado  -   denunciou   mo de transição: as tarifas  de intercone­  dade do modelo residiria, entretanto, nas
        Alain Riviere, diretor de Assuntos Regu-   xão estipuladas para a telefonia fixa vari­  bases da negociação.
        latórios da Intelig. O presidente da Tele­  avam entre US$ 0,07 e USS 0,05 por mi­  -  Com a tendência de queda dos custos,
        fónica, Fernando Xavier, rebateu  as acu­  nuto  em  1998  e  caíram  para USS  0,02   quem pede  interconexão  defende  o custo
        sações, questionando as conclusões do es­  atualmente. O contrato de concessão pre­  futuro, enquanto os proprietários  da rede
        tudo. “Pode ser que não sejamos deficitá­  vê que, até 2005, os valores devem baixar   reivindicam o custo histórico -  sintetizou.
        rios, e sim  que  tenhamos uma adminis­  para USS 0,01 por minuto.     Noam também acredita que, no caso, a li­
        tração  mais  eficiente”,  ironizou. Já José   -  As discussões entre as operadoras de­  vre negociação entre operadores é bem-vin­
        Fernandes Pauletti, presidente da Telemar   vem ter como foco a criação de um novo   da, não substituindo, entretanto, o papel do
        Holding, praticamente confirmou as quei­  modelo para o pós-2005, já que os próxi­  órgão regulador em arbitrar disputas.
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