Page 28 - Telebrasil - Julho/Agosto 2000
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O mundo maravilhoso e
ainda restrito da Internet
Dulce Alves dos Santos
Ainda sobre a precariedade das escolas - e
ara todos aqueles que se preocupam
P aqui não estamos falando do talento humano
com desigualdade social e acesso à
e da abnegação de mestres e alunos, mas sim
educação, as manchetes dos principais
jornais brasileiros nas últimas semanas fo do estado físico de nossas escolas e da ausên
ram desalentadoras. A notícia era uma só: cia dc equipamentos fundamentais de ensino
baixos níveis de renda e de escolaridade dei e pesquisa -, o censo do MEC (reúne escolas
xam do lado de fora da Internet 98% dos públicas c particulares) revela que apesar dc
brasileiros. alguma melhora de infra-estrutura, entre 1997
As estatísticas que documentam a notícia c 1999, de um total de 196.500 escolas do
ços essenciais, porém a Internet ainda não é
não são poucas, nem tão pouco, animado ensino fundamental, 63 mil não têm energia
ras. Os números são resultados de pesquisas elétrica; menos de oito em cada 100 dispõem essencial. E o setor privado?
Existe preocupação em levar a esse públi
realizadas pelo PNAD/1BGE - Pesquisa de equipamentos para atividades pedagógi
Nacional dc Amostras de Domicüios/lnsti- cas; 25% têm biblioteca (contra 20% em co os meios de acesso à comunicação do sé
culo XXI? Afinal, se não por razões mak
tuto Brasileiro de Geografia c Estatística - 1997); e somente três em cada 100 possuem
humanitárias, este pode se tomar um poten
quanto a faixa de renda; MEC - Ministério acesso à Internet.
da Educação quanto ao nível dc instru Vejamos então os dados sobre acesso à mí cial segmento de consumo.
Muito renho ouvido e lido sobre a onipre
ção; e Ibope/Intcmet Brasil, no que diz res dia eletrônica. Ainda de acordo com o censo
sença e onipotência da Internet, sobre a irre-
peito à pesquisa dc mídia. Sem dúvida, ins do MEC, apenas 6.030 (3,3%) do total de
vcrsibilidade da comunicação virtual, do co
tituições merecedoras de nosso respeito c escolas de ensino fundamental possuem aces
credibilidade. so à rede mundial de computadores, das quais mércio eletrônico e da globalização do« ne
gócios via rede. N o entanto, vejo e leio min
As pesquisas mostram que a concentra 67% são particulares. O censo vai mais além e
to pouco sobre a real preocupação daquele:
ção dc renda no País ainda é contumaz, e mostra que, no ensino médio, os números são
que já operam ou se utilizam da rede com a
que o distanciamento entre os poucos privi um pouco melhores: 22% possuem acesso à
universalização do acesso ao "maravilhoso"
legiados que têm acesso à educação e infor Internet (públicas e particulares).
mundo cibernético e com a capacitação áe
mação c os muitos que dispõem apenas da O ministro Paulo Renato, da Educação,
precariedade do ensino público parece não informa que o MEC, através do Proinfo, já futuros usuários.
Ações isoladas, patrocinadas por uma ou
querer encolher. Trocando cm miúdos, os instalou 33 mil computadores nas escolas bra
outra empresa, existem, mas beneficiam urr.
números dizem que 10% dos brasileiros mais sileiras, porém reconhece que a presença do
público ainda pequeno. Incentivos fiscais em
pobres ganham cm média RS 63 por mês, computador não garante, por si só, o acesso à
cima de impostos existentes ajudariam, con
contra RS 2.539 dos 10% mais ricos. Indi Internet. Para uma rede pública de cerca dc
tudo a burocracia que os acompanha ani
cam também que 67% dos brasileiros com 180 mil escolas dc ensino fundamental c mé
lhes a agilidade. Novos impostos estão tora
mais de 10 anos dc idade tem menos de oito dio, 33 mil microcomputadores não impres
anos de estudo, c que o analfabetismo, mes sionam muito. A mais recente pesquisa do de cogitação — já somos severamente taxa
dos. Em vez dc novos impostos c ações isola
mo com pequeno avanço em relação ao pas Ibope/Internct Brasil, realizada cm dezem
das, parcerias entre o setor privado - partku-
sado, resiste bravamente. A taxa no País é dc bro passado cm nove centros urbanos brasi
larmente do setor das telecomunicações - c
13%, mas no Nordeste, onde estão os piores leiros (São Paulo, Rio dc Janeiro, Curitiba,
prefeituras de regiões carentes, instituições
indicadores sociais, ela sobe para 27,5%. Os Porto Alegre, Belo Horizonte, Distrito Fe
públicas dc ensino ou projetos comunitários
índices de analfabetismo funcional (até qua deral, Salvador, Fortaleza e Recife) mostra
me parecem mais ágeis, eficientes e menos
tro anos dc escolaridade com domínio pre que o número de intemautas permanece es
onerosos. Além de agregar valor à imagem
cário da escrita e leitura) de pessoas com tável em 3,3 milhões.
mais de 15 anos continuam elevados: 30,5% Os números acima são preocupantes. Igual- de seus patrocinadores, tais parcerias encur
tariam distâncias na desigualdade a que no?
dos brasileiros nessa faixa etária, sendo que mente preocupante me parece ser a aparente
referimos no início deste texto e abririam
no Nordeste a taxa sobe para 47,8% c nas desatenção dos provedores, operadores e to
um novo mercado consumidor ate agora ali
áreas rurais para 70,2%. Alguns números dos osplayen que realizam seus negócios atra
jado do processo. Afinal, prover educação,
sinalizam pequenos avanços. Indicam, por vés da rede a essa imensa parcela dc brasilei
além de um belo exercício de cidadania, poi<
exemplo, que 95% das crianças entre sete c ros sem acesso à Internet. Apesar de seus li
ser também um ótimo negócio.
14 anos estão na escola, uma melhora dc mitados recursos, o MEC vem, a duras pe
1,7% cm relação ao índice do ano passado, c nas, tentando chegar lá. Os resultados são tão
um índice muito próximo do padrão uni ínfimos quanto escassos são os recursos, mas Dulce Alves dos Santos è integrante do
versal. Entre jovens de 15 a 17 anos, a me o esforço é inegável. O Ministério das Co Conselho Editorial da Revista Telebrasil e
assessora de imprensa da Americel em ßras'.o
municações prega a universalização dos servi
lhora foi de 28,1%.