Page 5 - Telebrasil - Setembro/Outubro 1997
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OPINIÃO
G l o b a l i z a ç ã o
Marco Aurélio de Almeida Rodrigues*
N
o mundo atual, as novidades se disseminam de
maneira muito rápida e se fazem sentir de ime
diato em todos os países, embora com diferentes
sintomas. A mais recente mudança que o mundo en joritariamente utilizados para a gestação de atividade
frenta é a chamada globalização e, como o nome sugere, econômica interna ao Brasil. Não podemos nos dar ao luxo
sua manifestação se faz onipresente. Os efeitos desse de perder tal oportunidade, mesmo porque seremos nós
novo fenômeno são avassaladores e como tal necessitam mesmos a pagar a conta.
de resposta rápida das sociedades organizadas. A dificuldade que terão de enfrentar os responsáveis
Não acredito que a globalização tenha nascido do pela gestação e implementação de tal política será a de
planejamento de gênios do mal. mas suas consequências não se criar uma política protecionista da incompetência
podem ser desastrosamente perversas para os menos ou com tons de ideologia nacionalista. Essa política deve
desenvolvidos. ser indutora de decisões, mas não obrigatória. Essa políti
O desemprego, marca registrada da globalização, ca deve estar assentada na competitividade global e não
está presente em todos os países, talvez apenas em parâmetros internos do país.
sinalizando o fim da era industrial como Pode parecer um paradoxo quando se
solução econômica para os povos. Nas 'Precisamos fala em competitiv idade global e ao mesmo
sociedades maduras e nas economicamente tempo em política de incentivo à produção
fortes, haverá mais tempo para se buscar de uma local. Aparentemente, quem atinge nível de
os devidos antídotos a essa epidemia. Nos competitiv idade global não precisaria de fator
países menos preparados, o desemprego é política indutor para o sucesso de seus negócios. Não
um fator adicional e de grande complicação vejo betn assimJ,
na solução de seus inúmeros problemas. moderna, que () quadro que se desenha no país é o da
O fato de o mundo ter se tornado efeti presença maciça de empresas "Operadoras
vamente uma 'aldeia global" tende a ear se estribe Cilobais" com vínculos sólidos nos seus paí
rear para os países mais adiantados parcela ses sede. Essas empresas frequentemente
significativa dos parcos empregos que são H ilS 1 O fÇciS (Jo tenderão a adquirir seus produtos a partir de
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gerados pela atividade económica nos bases centralizadas, segundo sua lógica global
demais países. Não entendo isso como um mercado" e segundo suas conveniências próprias ou a
movimento premeditado, mas apenas uma conveniência induzida por seus países-berço.
prevalência do preparo e competência daqueles em A esse movimento natural de escolha, segundo
estágios de desenvolvimento mais avançados. interesses que pouco ou nada têm a ver com os nossos.
Essas preocupações nos surgem quando pensamos movimento que ê uma manifestação explícita do fenômeno
no novo ciclo das telecomunicações que recém se iniciou da globalização, precisa ser contraposta uma política efetiva
no Brasil. A grande mudança que se pronuncia, com a no sentido de reorientar-se as forças de mercado para serem
formação de novas empresas e com o aporte de grande nossas parceiras na criação e manutenção de emprego no
volume de investimentos, tem de ser corretamente apro- país. Uma política que faça com que os compradores
veitada no sentido de se proporcionar o máximo possível "globais" tenham vantagens quando dão preferência a
tle geração de oportunidades e empregos dentro do país. produtos aqui produzidos.
E sempre mais fácil dizer que fazer... mas uma po Precisamos de uma política industrial moderna, que se
lítica industrial, que induza á produção de bens e ser estribe nas forças de mercado como elemento decisório a
viços localmente, tem de ser corretamente formulada. nosso favor.
Não advogamos uma política protecionista, mas tem Nossa sociedade tem de garantir a mais importante
de havei vantagens a quem se dispõe a criar empregos manifestação da cidadania que é o emprego,
no país e portanto está contribuindo direta e indireta-
mente com a geração local de riquezas.
O país tem de fazer com que os bilhões de dólares 'Marco Aurélio de Almeida Rodrigues é presidente da
Qualcomm do Brasil e diretor da felebrasd
anuais de investimento nas telecomunicações sejam ma-