Page 74 - Telebrasil - Novembro/Dezembro 1993
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O p e r a r p r o p r i a o u
t e r c e i r i z a r ? q u e s t ã o !
sse foi um dilema que surgiu no setor de da. É onde as empresas de processamento de
informática e que hoje afeta o setor de teleco dados (equipamentos e serviços) estão na fren
municações. Ele diz respeito à maioria das te. Elas conseguem chegar com mais facilidade
empresas transacionais com suas monstruosas e à customização, obedecendo a parâmetros ine
tentaculares redes corporativas, com braços em rentes à aplicação de cada um.
vários países do mundo. Esse dilema, no entanto, Nesse caso, contribui bastante a cultura do setor
não existe só por conta das grandes corporações de informática, que provém de um ambiente plena
que desejam se livrar do pesado encargo de operar mente favorável à análise de processos, o que já não
e gerenciar suas próprias redes, mas que ao mesmo ocorre no setor de telecomunicações.
tempo necessitam assegurar um mínimo de confi No setor de telecomunicações pesa a cultura do
abilidade junto à "carrier" para qual pretende en serviço padronizado produzido para um público con
tregar sua operação. sumidor com características indistintas. Somente a
um dilema também das "carriers", que ne partir das redes especializadas de comunicações públi
cessitam de meios disponíveis para assegurar a cas de dados, surgidas na década de 80, tomou- se
confiança de que seus clientes precisam. E as possível a customização das soluções.
empresas realmente esperam algo mais em ter Na terceirização, o que se exige são atividades
mos de oferta para poderem se decidir. Cabe a pergunta: até que orientadas por um baixo volume de projetos individuais. É,
ponto as "carriers" hoje nossas conhecidas, têm uma capacida portanto, um choque de cultura.
de de resposta adequada? Apesar das dificuldades e limitações, o mercado de terceirização
O problema, para ser bem entendido, deve ser decomposto. As é quente c surgem novas empresas a cada dia, resultado da asso
barreiras, hoje, a uma decisão estratégica das " carriers" de se ciação de duas. três ou mais empresas globais na América do Norte.
lançarem no mercado das redes globais, estão nas limitações que a Europa e Ásia. No Conesul, as "carriers" disputam com as empresa
solução global terá de enfrentar. As barreiras são de várias origens: locais os investimentos em novos meios de telecomunicações
tecnológicas, de regulamentação, diversidade cultural, etc. (satélites, cabos de libras ópticas internacionais, etc..) de forma a
Quando falamos em tecnologia, nos referimos ao nível tecnológico garantir sua parcela de participação nos novos negócios.
ofertado pelas "carriers", que deve ser mais do que compatível com o H fato que as grandes corporações, não só transnacionais mas
das redes das empresas as quais se propõe absorver ou substituir. qualquer que sejam, com determinadas características de dispersão
Quando falamos cm regulamentação, nos referimos á flexibilidade de pontos de interesse como os bancos, redes de comércio atacadista
empresarial da "carrier" para contornar a questão do limite concessivo e varejista, etc. investem pesadamente ainda hoje em redes de
de cada um dos países abrangidos pela rede global. Quando nos telecomunicações para uso próprio. A tendência, porém, é de que se
referimos à diversidade cultural, estamos nos referindo ao nível concentrem cada vez mais nas ações que estejam ligadas diretamen
diversificado das respostas nos diferentes mercados servidos pela rede. te à sua atividade e terceirizem quase que inteiramente atividades
Cumprir tais exigências é fundamental para a empresa usuária. paralelas. Tais atividades são hoje de capital intensivo e altamente
O setor de informática deve estar uns dois anos na frente do setor de especializadas em termos de mão-de-obra. Isso toma os grandes
telecomunicações nas soluções adotadas para venceras barreiras impos clientes de telecomunicações quase tão conhecedores, ou mais, das
tas. O que no setor de telecomunicações se tem feito são os acordos de novas tecnologias de telecomunicações e de informática do que os
serviços, as parcerias e as associações de empresa que a partir daí criam especialistas das empresas desses ramos.
Empresas Globais. Isso permite tratar o problema da terceirização de Isso evidentemente aumenta o nível de exigência. E o cenário
forma distinta, levando cm conta as peculiaridades regionais. brasileiro nesse mercado?
De um modo geral, quando uma empresa resolve terceirizar suas Como não poderia deixar de ser, pelas próprias característi
redes de telecomunicações ou parte delas, ela o faz muito con cas do País, o mercado brasileiro de consumo é bastante
scientemente de que está cortando custos; de que está se liberando apetitoso para as grandes empresas que aqui representam
dos investimentos em recursos tecnológicos e humanos altamente importantes segmentos de negócios.
especializados que devem ser mantidos atualizados, e quer se Assim, temos montadoras de veículos, empresas fornecedoras
despreocupar de cuidar, no âmbito operacional e gerencial, de de equipamentos eletro-eletrônicos, grandes laboratórios e indús
questões como tempo de resposta e outros parâmetros técnicos que trias químicas, grandes bancos e outros tipos de empresas com
o seu mercado lhe exige. Com isso, ela quer ganhar em competitiv características apropriadas.
idade e transferir o problema de sua rede para sua contratada. E Isso torna o nosso mercado de terceirização bastante consideráv
exige serviço eficiente, evidentemente, para o qual o seu nível de el para telecomunicações. No campo dos serviços de infonnática
expectativa é grande. Isso para ela é fundamental. ele movimenta hoje cerca de US$ 450 milhões dentro de um
E haja competência da "carrier" que se candidata a prestar o potencial de US$ 3,5 a US$ 4 bilhões e em outros setores de
serviços.Qual é o nível de competência das "carriers" no merca negócios menos complexos já se faz a quarteirização. Como pode
do de terceirização? mos ver, é uma boa dica para o investimento de negócios nas
Grande parte do que elas podem fazer hoje abrange a absorção próximas décadas.
de partes das redes. A solução sem costuras que as empresas Retornamos ao dilema inicial, dessa vez colocando-o sob uma
sonham ainda não é possível. forma "Shakespeariana":
Sc considerarmos que toda rede se compõe de um transporte Ser ou não ser no mercado de terceirização, eis a questão!
c de um processamento das informações, ainda é comum
vermos a terceirização da parte transportadora o que leva a uma Engenheiro José Luiz Valle - trabalha na Divisão de Marketing
solução híbrida. Isso porque a parte de processamento é bas da Diretoria Internacional da Embratel e é membro do Conselho
tante intrínsica às atividades do cliente. E bem mais complica- de Redação da REVISTA TELEBRASIL)