Page 16 - Telebrasil - Março/Abril 1993

— “Vivemos a maior

revolução tecnológica,

desde as descobertas do

fogo e da roda’’ — garantiu

o físico Luiz Alberto

de Oliveira, professor de

História da Filosofia da

Ciência, no Centro Brasileiro

de Pesquisas Físicas,

da UFRJ, ao observar que

“o saber científico mudou,

neste século, do modelo

paradigmático, chamado

clássico, para o denominado

quântico-relativista”.

Tà Ta nova maneira de ver as coisas o

\ mundo subatômico c explicado pe-

1 Ia teoria quântica; a extensão doU-

1 1 niverso pela relatividade; e o mun­

do que nos cerca pela teoria do cáos. Aspecto dc nossa galáxia, parte de nosso universo em mudança.

A física clássica teve um final apo­

teótico com a ida do homem à Lua,

seu último grande feito. Iuri Gagarin seriam átomos imutáveis que baila­ que, ao final do Século XIX, quatro

ao gritar que “ a terra c azul” modi­ riam ao som de forças que se desen­ fenômenos abalaram a catedral do co-

ficou, para sempre, nossa forma de rolariam num tempo uniforme. O es­ nhecimemnto clássico: o arrastro em

pensar. paço abstrato seria estudado pela geo­ relação ao éter, dando origem à teo­

Segundo Alberto Oliveira, a Hu­ metria c o mundo real por pontos ria da relatividade e da velocidade li­

manidade vai, agora, partir para a geométricos que posicionariam os ob­ mite da luz; a descoberta da radioati­

exploração conjunta das profundezas jetos. Nesta visão tradicional, o fato vidade, que mostrou que o átomo era

marinhas c do espaço sideral, as últi­ dc haver, ou não, objetos no espaço divisível; a catástrofe ultra-violeta da

mas fronteiras do desconhecido. Cor­ físico, não alteraria suas proprieda­ radiação do corpo negro, gerando a

remos, porém, o perigo da especiali­ des — uma noção que a relatividade teoria quântica da matéria; e o apare­

zação crescente, como em engenharia de Einstein iria derrubar — daí sua cimento de fluxos turbulentos, escla­

genética. É preciso criar uma nova denominação de ‘‘espaço absoluto” . recendo a denominada “ termodinâ­

ética para lidar com a complexidade Disse o cientista que o tempo, na mica longe do ponto de equilíbrio”.

da ciência c uma maior comunicação visão tradicional, também é absolu­ Foi a observação de um fenômeno

cientista-sociedade’ ’. to. O conjunto do universo sofre o relativamente inócuo, a luz radiada

mesmo impacto da variação tempo­ por um corpo negro, tal como a boca

Clássico ral. O tempo corre simultâneo para de uma fornalha de metal derretido,

um observador, parado ou em movi­ que comprovou que a velha teoria clás­

A tradição helénica — elaborada mento. É um mundo imutável, linear, sica, não mais explicava a cor emiti­

por Galileo, no século XVI, e por onde o tempo observado é universal da na região do ultravioleta. Perce­

Newton no século XVII — explicava e uniforme. É possível determinar ma­ beu-se, então, que a ação da matéria

o movimento dos corpos. A matéria tematicamente o movimento de um — no caso, sob forma de energia lu­

seria constituída de entes impenetrá­ objeto e a natureza das forças que o minosa — ocorria de maneira des­

veis, os átomos — que em grego sig­ provocou. contínua, por pacotes (em grego quan-

nifica indivisíveis — criados desde sem­ Sabendo a equação do movimento tum) de energia. Esta nova mecânica

pre. Forças agregariam tais átomos ç possível — uma vez conhecido o — quântica — passou a explicar co­

para formar os corpos do universo, estado do universo em dado instante mo os átomos interagiam, tendo co­

que se movimentariam num espaço a — determinar onde estaremos no fu­ mo base a descontinuidade das trocas

três dimensões, segundo a geometria turo ou onde estivemos no passado. de energia entre eles.

inventada por Euclides, 300 anos an­ O homem, profeta, é conhecedor de A nova teoria abalou os próprios

tes de Cristo. seu destino. Todo o cenário era filo­ alicerces da ciência — que é baseada

Alberto de Oliveira comparou este soficamente confortável com o homem na observação inteligente dos fenô­

modelo, clássico, a um palco cujas dominando, através da lógica, seu pe­ menos — ao postular que qualquer

dimensões cênicas, ao longo do tem­ queno (grande) mundo conhecido. medição afeta o que está sendo ob­

po, não mudassem. Os personagens O pesquisador do CBPF recordou servado em, pelo menos, um quan-