Page 46 - Telebrasil - Maio/Junho 1991
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Um espaço livre em defesa de idéias
R e d e s e c a b o s t e l e f ô n i c o s :
D e s a f i o s p a r a a d é c a d a d e 9 0
Eng. Ludgero Pattaro (*)
Se analisarmos o atual te necessário. Planejamento, porém, com dos produtos brasileiros são de primei
momento por que pas objetivos de médio e longo prazos, on ra grandeza no contexto internacional.
sa as telecomunica de seriam assegurados ao trinômio Vemos, para o futuro, um desenvolvi
ções no Brasil, o qua — operadoras-indústrias-usuários —• um mento a ser feito, basicamente: a substi
dro resultante apre horizonte confiável de pelo menos cin tuição do isolamento em papel para o
senta as seguintes co anos. Desnecessário se torna comen isolamento do tipo foam-skin. Este de
principais característi tar que telecomunicações é, no mundo senvolvimento, embora traga a desvanta
cas: reestruturação or- atual, ferramenta fundamental para ala gem de custos e de que a matéria-pri
ganizativa das empre vancagem do desenvolvimento econômi ma papel não é derivada do petróleo, so
sas públicas de TCs; co. É simultaneamente causa e consequên mente se justificaria para cabos de re
redefinição do papel cia do desenvolvimento de uma nação. de primária com elevadas prescrições
da empresa holding Telebrás; definição A realidade Tarifária é imprescindível de diafonia, ou. em outras palavras, ca
de um novo quadro de dirigentes, quer para viabilizar recursos financeiros de bos já adequados para a RDSI — Rede
da Telebrás, quer das empresas do STB; investimentos e custeio, sem o que to Digital de Serviço Integrado. Toda es
novo papel da Secretaria Nacional de do um programa de realização ficará sa tecnologia já está disponível no País.
Comunicações como órgáo de políticas comprometido. Capacitação Gerencial e de Recursos
industrial e setorial, bem como órgão Mas, alguém perguntaria: o que tu Humanos: o setor de redes e cabos já
normatizador do Sistema Nacional de do isto tem a ver com as redes e cabos demonstrou que está habilitado a respon
Comunicações; reformulação das princi telefônicos e seus desafios para a dé der desafios de gestão com quadro ge
pais diretrizes de política industrial; pro cada de 90? Não podemos ignorar que rencial e operacional de muito bom ní
posta de privatização dos serviços de te as redes e cabos telefônicos são parte vel. Lembramos que empresas brasilei
lecomunicações, ou parte destes serviços. de um conjunto que é a telefonia ou tele ras realizaram, com sucesso, trabalhos
Diria aquele famoso detetive de li comunicações. Partindo de premissa po não só no País, como também no exte
vros policiais: “Too much my Dear Wat- sitiva para o setor, gostaríamos de fazer rior, de grande complexidade organiza
son”. Ou, em outras palavras, o impac uma análise, embora simplificada, do se cional e administrativa, em países co
to é muito grande para toda uma déca tor de redes e cabos telefônicos, enfocan mo Bolívia, Equador, Nigéria, Chile,
da. Mas, como tudo isso só não bastas do os seguintes aspectos: capacitação tec México e Itália, dentre outros. Nesta
se, vejamos do lado dos usuários: Há nológica; capacitação gerencial e de re área, principalmente em atividades in
mais de um milhão de telefones vendi cursos humanos, e política setorial. dustriais, fazendo-se com que os recur
dos e não instalados, sendo que deste to No que se refere à capacitação tecno sos de mão-de-obra sejam aderentes aos
tal cerca de 400 mil vendidos há mais lógica, o Brasil dispõe de um parque in volumes de produção que, por sua vez.
de 24 meses e já pagos pelos assinantes. dustrial de primeira grandeza, que não resultam de planejamentos de médio e
Congestionamento de tráfego em várias fica nada a dever aos países do primei longo prazos, podem ser obtidos impor
cidades do Brasil nas horas de maior ro mundo. Só para citar um exemplo, tantes ganhos de eficiência e produtivi
movimento. Degradação da qualidade nós da Pirelli estamos capacitados a pro dade.
dos serviços prestados; chamadas não duzir cabos para telecomunicações se Quanto à política setorial, achamos
completadas; aumento do tempo de espe gundo as mais diversas especificações que já é hora do setor de telecomunica
ra do toque de discar, etc. internacionais, quer sejam cabos tradicio ções. pelo menos, tornar coerente a sua
No que se refere ao setor industrial, nais com condutores de cobre, quer se política industrial com a política indus
a situação é bastante difícil com um qua jam os modernos cabos de fibras ópticas, trial e de comércio exterior do Gover
dro altamente recessivo, sem encomen o que nos têm permitido realizar uma no Federal. Refiro-me a algumas porta
das e sem nenhuma perspectiva de cur agressiva política de exportações. De rias que pertencem ao departamento
to prazo, além de atrasos de pagamen mos ênfase nestes últimos anos a inves de entulhos e que estabeleceram reser
tos. Nota-se, portanto, que o trinômio timentos em capacitação tecnológica, im vas e privilégios de mercado, como as
operadoras-indústrias-usuários está co plementação de programas de Qualida Portarias 181 e 312 do antigo Ministério
mo numa espiral descendente com siner de Total, investimentos em sistemas pa das Comunicações. Estas portarias não
gia negativa que tem de ser rapidamen ra ganho contínuo de eficiência e produ só não se coadunam com a atual políti
te bloqueada. tividade. Isso nos tem permitido alcan ca de desenvolvimento industrial do go
De que maneira? Na nossa opinião, çar grande potencial competitivo. No verno, como também, do pomo de vis
para a recuperação do setor, acredita ano passado, obtivemos a incrível mar ta jurídico, são discutíveis a sua constitu
mos em duas grandes providências e ca de exportar 65% do volume produzi cionalidade. uma vez que o Artigo 17L
que podemos resumir em Planejamen do na nossa fábrica de cabos para teleco da Constituição Federal, diz claramen
to e Tarifa. O resgate da figura do Pla municações de Sorocaba. Sem dúvida te que a lei e somente a lei poderá esta
nejamento para a Telebrás e as empre um recorde nacional. belecer privilégios como a reserva de
sas do STB, outrora um dos seus gran Tratando-se dos tradicionais cabos mercado.
des pontos fortes, toma-se absolutamen- com condutores de cobre, a qualidade
(*) Diretor de Cabos Telefônicos Pirelli, Diretor Acessórios e Cubos da Abinec ffclccomumcações): Diretor Setor Cabos Telefônico* do Sindicei.
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