Page 46 - Telebrasil - Julho/Agosto 1991
P. 46
Um espaço livre em defesa de idéias
U m a r e s e r v a d e m e r c a d o i n t e l i g e n t e
A nselm o Nakatani (*)
Não é incomum chões" e os "Gersons", faz com que se chama avaliação dinâmica da qualidade.
as pessoas se apro associe a um japonês imagens mostra Pelo nosso conceito, não vendemos
ximarem de mim, das em alguns comerciais de TV, com só cabos telefônicos, mas um meio de
sobretudo a im participação de figuras orientais. Não comunicação ao usuário final. Se uma
prensa, para saber vejo nada daquilo, que tais imagens indu fibra se rompe no futuro e o assinante
como um japonês zem, nos japoneses do mundo real. Tra do serviço fica sem poder falar, nào
vê a conjuntura ta-se de uma distorção imprecisa e até adianta discutir se a culpa é do fabrican
brasileira e a evolu injusta, que se acaba criando em relação te da fibra ou porque a estragamos du
ção da tecnologia a um determinado povo. “Mutatis Mu- rante a fabricação do cabo. Para assegu
no Brasil. Acredi tandis" em relação aos brasileiros tem- rar qualidade, fazemos avaliação dinâmi
to que isso se deve ao fato de eu presi se a imagem incorreta de “um povo não ca e ensaio de screenmg em todas as fi
dir uma subsidiária nipônica no Brasil, sério”, extendida de foram geral, o que bras recebidas do fabricante nacional
ter aparência de um executivo japonês não é verdade. Se estes materiais tivessem qualidade
e, possivelmente, pela posição de desta O mais importante é não perder de melhor, não precisaríamos manter esto
que que o Japão passou a ocupar, nos vista o fato de que para ser competiti ques tão elevados para garantir ritmo
últimos anos, no cenário econômico e vo é preciso chegar à qualidade e à con de produção. Poderíamos aplicar ao pé
na tecnologia de ponta. Apesar de, na fiabilidade. Além disso, tem-se de ter da letra o Just in Time. Além disso, a
realidade, ser brasileiro, em função do preço adequado e isso não significa ne quantidade de emendas, mudanças fre*
meu trabalho tenho acesso razoável ao cessariamente ser o mais barato. O pre qüentes com parada de máquinas exigi
que se passa no Japão. ço considerado bom pelo cliente é aque das pelos lances curtos e variáveis da fi
Nas duas últimas décadas, produtos le que é comparado com as alternativas bra nacional, acabam por elevar por de
Made in Japan viraram sinônimo de concorrentes e motiva a compra não ape mais os custos. Tudo isso, óbvio, onera
Qualidade e Confiabilidade em qualquer nas pelo preço do bem, mas pela satisfa o preço final. Este é o custo da reserva.
parte do mundo. Os defensores nacio ção que proporciona. Obviamente, quem Felizinente, com o término da reserva
nais da lei de reserva de mercado, por não tem custo “enxuto”, não poderá ter de mercado para as fibras ópticas, te
isso, costumam citar o Japão como exem preço adequado. mos esperança de melhoria futura.
plo de país fechado aos produtos estran A Furukawa, em todo o mundo, des Além disso, se os planejamentos das
geiros. Isso, na maioria absoluta dos ca de 1985, pensa nesses aspectos, por isso obras fossem executados com cabos, tan
sos, não passa de "uma desculpa dc introduziu o conceito produtivo NFPS to metálicos quanto ópticos,com lances
quem tenta vender naquele país itens — New Furukawa Production System. certos às necessidades, com entregas di
sem qualidade e principalmente sem con Na unidade industrial de Curitiba, retamente no local, em lotes semanais
fiabilidade. NFPS, que é uma tecnologia avançada ou diários, os clientes poderiam evitar
O consumidor japonês é um dos dc processo de fabricação que visa au desperdícios, cortes dispensáveis e usa
mais exigentes do mundo e também dos mento de produtividade com melhoria riam menos capital de giro No Brasil,
mais impiedosos em relação às falhas de qualidade, já foi implantada e produz carente de recursos financeiros, o dinhei
que apresenta um produto. No Japão, efeitos notáveis. Qualquer encomenda ro há muito tempo é a principal máteria-
um atendimento ineficiente é mais do de cabo telefônico pode ser programa prima. Já existem alguns poucos clien
que motivo para causar o insucesso de da para entregas semanais, até diárias, tes que praticam esse Just in Time era
uma marca ou serviço. Como a socieda se for o caso. Esse Lead Time, antes gi suas obras, com grandes benefícios. Cora
de japonesa é extremamente organiza rava ao redor de oito e dez semanas. os custos normais do dinheiro no Brasil
da, a notícia se espalha como fogo na Isso significa redução no capital de facilmente se conclui que para cada US$
mata. No Brasil, embora todo cidadão giro necessário, combinada com a elimi 1,0 milhão de investimento em cabos te
um dia tenha passado pelo dissabor do nação de outros focos de desperdícios. lefônicos pode-se economizar cerca de
mal atendimento, ou se sentido lesado, O conceito básico é que um produtor US$ 340 mil só com a técnica de Just
não se criou ainda o hábito de reclamar não tem o direito de repassar ao seu in Time nas obras.
e de, principalmente, punir o mal vende cliente o custo do trabalho que não agre A verdadeira reserva de mercado con
dor excluindo-o das futuras compras. gue nenhum valor ao produto. Os bene tra as importações pode ser justamente
Além disso, é muito comum um cliente fícios finais, contudo, só se completam essa técnica de reduzir a necessidade
brasileiro, após ter sofrido em longa fi com a aplicação da técnica a toda a ca de capitais. Um importador teria de com
la para ser atendido e, para piorar ain deia produtiva e também ao cliente prar lotes maiores de cada vez, empe
da mais a situação, ter recebido um bem (TQC — Total Quality Control). Toman nhando seus preciosos recursos desde o
ou serviço de qualidade duvidosa, sair do o exemplo de fabricação de cabos instante em que se abre a carta de crédi
no final agradecendo ao vendedor. de fibras ópticas (até recentemente éra to. Em cabos telefônicos, se chegaria à
Não quero com isso levar as pessoas mos impedidos por lei de produzir as conclusão de que comprar no Exterior,
a pensarem que no Japão as empresas próprias fibras) o mercado nacional vem a preço muito mais baixo, nào passa de
são perfeitas.A questão é a freqüência sendo abastecido por fibras com compri simples ilusão. Quem sabe esta seja a
com que os problemas aparecem em cer mento médio de 2,7 km, variando cerca principal razão porque é tão difícil ven
tos produtos e, pnncipalmente, a postu de 0,8 km a 12 km. Hoje, no primeiro der para o Japão.
ra que se adota na solução do proble mundo, se entrega com a média da or A reserva de mercado garantida por
ma. A aparente submissão e humildade dem de 20 km. No Japão, a Furukawa lei interessa a poucos; acomoda alguns
de um japonês perante seu cliente, e o pode produzir internamente com com fabricantes, que deixam de investir era
hábito de respeitar aos direitos alheios, primento até da ordem de 400 km. Ho nova tecnologia de processos produtivos,
num país em que se idolatra os "ma- je, um fabricante de automóvel no Japão assusta investidores, subretudo os exter
não vende um carro e sim um meio de nos; e prejudica muito o consumidor
(V Anselmo Nakatani é presidente da Furvkawa In transporte. Com todos os serviços de Só ajuda uns poucos privilegiados 0
dustrial S A Produtos Elétricos e diretor do Sindi diabo é que são poucos e, em geral, a
cei, ABC (Associação Brasileira do Cobre) e ABAL pré e pós venda que garantam comple
(Associação Brasileira de Alumínio). ta satisfação ao seu cliente. E o que se gente não está incluído nesse grupo.