Page 5 - Telebrasil - Julho/Agosto 1989
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e d it o r ia l
S É C U L O X X I - P R E L U D I O
“On ne subit pas l'avenir, on le fait”
George Bernanos
0 processo de desenvolvimento tecnológico que, a
distância, assistimos, nos leva a cismar em que medida
as telecomunicações — até aqui coadjuvantes — virão a
ter papel de relevo no desempenho, com a informática,
do “pas de deux” que se anuncia ao se descerrarem as
cortinas do Século XXI.
Acredito que os corpos de baile e orquestras de todos
os grandes teatros se vêm preparando para o magnífico
“ballet”.
Também as platéias, em ansiosa expectativa, acorrem
aos guichês e reservam poltronas, camarotes, galerias e
torrinhas. Ninguém se conforma em estar ausente do
grande espetáculo.
Ninguém, modo de dizer. Ninguém consciente de que se
antecipa o despertar de nova arte. Ninguém que tenha
apreciado o silêncio grandiloquente do teatro Kabuki, ou
os estrepitosos shows musicais; ninguém que tenha
conhecido as imortais figuras da tragédia grega ou o
picaresco dos vaudeville, ninguém que se tenha
impressionado com a “art nouveau” ou, que sei eu, com
quantas escolas em todas as artes.
No meu entender, entretanto, nós estamos fora.
Ao nosso público não oferecemos senão simplórias
retretas de aldeia ou, quando muito, uma peça mal
traduzida e mal encenada. A “reserva teatral” e a
“independência artística” nos sufocam e preservam de
quaisquer confrontos.
Não abrimos nosso teatro a figurantes estrangeiros.
Não! Tememos negociar com quantos pretendam
associar-se conosco.
Por que tal receio? Confessamo-nos, todos, venais,
burros ou incompetentes?
Deixo minha mensagem. Quem viver verá.
Haroldo Corrêa de Mattos
(Diretor da Telebrasil e Vice-Presidente
da Standard Eletrônica)