Page 48 - Telebrasil - Julho/Agosto 1989
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A d e u s , C e t e l
José Antonio de Alencastro e Silva*
Tendo recebido do Presidente da
Telebrasil, engenheiro Luiz de
Oliveira Machado, a honrosa dis
tinção de escrever um artigo para
abrir uma nova fase da Revista
da Associação, estava em dúvida
sobre o tema. Detive-me em dois:
“Contrato de Gestão e a Empresa
Estatal” e “Análise Sintética das
Telecom unicações Brasileiras
Já estava fazendo a revisão dos te
mas, quando dois antigos companheiros
do Sistema Telebrás, sabendo dos vín
culos sentimentais que me ligam à Ce
tel e querendo me poupar da surpresa
de ler a notícia pelos jornais, informa O eX’Govornndor Chagas Prcitns (D) está na outra extremidade.
ram-me que ela era um doente termi
nal, isto é, seus dias estavam contados.
Como não poderia deixar de ser, fi nheiros de telecomunicações, e mais o expansões sucessivas (7.100 e 13.200
quei abalado com a notícia, embora, no engenheiro Eudoro Lemos, especiali terminais) lhe tornaram mais forte e,
fundo, eu tivesse a certeza de que sua zado em economia e finanças, decidiram ao mesmo tempo, mais segura de si mes
absorção pela Telerj era um determinis erguer a bandeira do pioneirismo, ado ma. E que, com as expansões, você atin
mo político, econômico e técnico. So tando soluções modernas como ondas giu a maioridade. Seu espírito pioneiro
mente o imenso amor, que sempre dedi portadoras na época, equipamento lhe levou a uma posição de respeito.
quei à Cetel, impediu que a razão pre em amplitude modulada, de fabricação Equipamentos PCM, pela primeira vez
valecesse durante os 11 anos que presi Lenkurt (GTE); cabos plásticos, quando utilizados no País; microondas em tron
di a Telebrás. Nunca eu poderia esque a sua técnica de fabricação e de emen co urbano, emendas com conectores, lu
cer o quanto ela foi importante para a das ainda não era dominada, se tornan vas ventiladas, pressurização de cabos
minha vida profissional. Os 6 anos e do um obstáculo gigantesco. Por outro com ar seco. Enfim, em tudo, Cetel, você
meio que a presidi, constituiram-se no lado, os equipamentos de comutação do foi a primeira. Um exemplo: O risco que
meu “mestrado” em administração de tipo Pentaconta — PC 1000 — fabrica você assum iu, decidindo construir,
empresas de telecomunicações. dos pela primeira vez no País pela Stan através de seus próprios filhos, a rede
Exposto o fato, passarei a falar de dard Eletric (ITT) e os aparelhos telefô da primeira expansão foi prova de mui
minha Cetel; e, estranhp, não a tratarei nicos (Sonofone), de triste memória, ta coragem.
como pessoa jurídica. E que, como um criaram difíceis problemas de operação. Com todo este sucesso, Cetel, você foi
ente humano, ela despertou amores e A qualidade dos serviços que você pres se fortalecendo. Os serviços prestados
ódios. Foi endeusada e, execrada. Obte tava, Cetel, era péssima. Chegaram a foram melhorando na medida em que
ve vitórias e derrotas. E da sua vida que lhe apelidar de Dom Rafael, aquele per você crescia. Os terminais telefônicos
me ocuparei. sonagem da novela “O Direito de Nas de bateria Central (menos de 2.000),
Apesar de você, Cetel, não ter sido cer” que sofria de um mal que o impedia que você encontrou, alcançaram aproxi
fruto de amor gerado na família das te de falar; mas que, como você, Cetel, veio madamente 300.000. Foi o seu cresci
lecomunicações — você nasceu de uma a falar ... e falar bem. mento que viabilizou as áreas suburba
reação de Carlos Lacerda, quando foi Você abrigava em sua casa apenas nas e rurais do Rio de Janeiro.
impedido pelo Governo Federal de re 14.200 terminais telefônicos. Havia que Com esse seu passado, Cetel, as notí
solver o problema da telefonia, confor crescer. Era indispensável à sua viabili cias de que você estava a morte foram
me prometido em seu programa de can dade económ ica-financeira. Duas cruéis. Somente foram lembrados seus
didato a Governador do então Estado da últimos tempos de vida. Não houve res
Guanabara — sua criação foi um marco peito pelo seu papel histórico. Não apa
na telefonia do País. receu um único elogio fúnebre. Somen
Quando você nasceu, a 25 de março te críticas impiedosas. N£o houve um
de 1963, as telecomunicações brasilei único comentário sobre as razões que
ras viviam sua grande crise. Como fo lhe levaram, Cetel, à atual situação.
ram difíceis os seus primeiros passos! Você foi abandonada à sua própria sor
Havia que vencer complexos problemas te. Tendo que servir a uma região mais
de telefonia, como o enlace urbano en pobre da cidade, você precisava de apoio
tre Santa Cruz e a Ilha de Paquetá que lhe faltou. Uma injustiça.
(75 km). Além disso, os seus primeiros Tudo que estamos falando a seu res
diretores — Brigadeiro Gilberto Toledo peito não significa que não se reconheça
(presidente), Brigadeiro Theobaldo que^ua morte, Cetel, é inexorável. 0
Kopp, General Lincoln Geolás Caldas, que nos deixa profundamente triste é
Coronel Ary Barbosa Khal, todos enge você estar morrendo sem o reconheci
mento público do grande papel que você
exerceu na afirmação da capacidade de
brasileiros de planejar, construir e ope
*José A ntonio de A lencastro e Silva, foi P R da Cia.
Telefónica da G uanabara-C etel (65-72), da Tele- rar telefonia. A esperança que nos resta
m ig (72-74), da Telebrás (74-85). Aposentado, vive é que a história lhe faça justiça.
em B rasília. O G eneral A lencastro, como é m ais
conhecido, nasceu em Livram ento (RS), em 1918. Adeus, CETEL *