Page 50 - Telebrasil - Janeiro/Fevereiro 1989
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T e l e f o n i a é v i á v e l n o m i n i f ú n d i o
Colaboração: Marcelo Angra Ramos. *
No Brasil, a interiorizaçáo das tele No esforço para universalizar os ser mas de rádio multicanais que operam
comunicações visando o atendimento de viços de telecomunicações, o país adotou na faixa de VHF ou UHF. Muitos destes
pequenas cidades interioranas, proprie o monopólio estatal como meio de suprir sistem as estão sendo implantados em
dades agrícolas e outras localidades ru os investimentos necessários. O pressu pequenas cidades, distritos e outras lo
rais, tem sido implementada como re posto desse modelo é que o governo pro calidades rurais; os investimentos são
sultado de compromissos que compati movendo a compatibilização de pressões preponderantemente cobertos por con
bilizam variáveis políticas sociais, eco políticas setoriais, estabelece subídios sórcios envolvendo prefeituras munici
nômicas e tecnológicas. cruzados, ou seja, transfere recursos ob pais, governos estaduais e concessio
A telefonia rural é um fator de produ tidos em regiões e setores de maior lu nárias de telecomunicações associadas
ção que contribui para elevar a produti cratividade para cobrir investimentos à Telebrás.
vidade agrícola e fornece melhores con em áreas em que a prestação de serviços Em áreas de minifúndios mais capi
dições p ara a fixação do homem no de telecomunicações apresenta menor talizadas, a proximidade entre assinan
campo, reduzindo, assim, desequilíbrios rentabilidade. De fato, segundo dados tes — geral mente organizados em coo
regionais e o exôdo rural que alimenta a da Telebrás, existe, no País, 10.000 lo perativas — reduz a densidade por km2
concentração de excessivos contingen calidades atendidas, sendo que apenas e viabiliza o atendim ento com cabos
tes populacionais nos grandes centros 1.000 são superavitárias. Caso o sis telefônicos geleados (ou “preenchidos”
urbanos. No entanto, apresenta baixa tema fosse gerido pela iniciativa pri com geléia de petróleo). r
rentabilidade financeira, notadamente vada, seria provável que os investimen
em regiões menos desenvolvidas, que tos tendessem a se concentrar nas lo Custo
Assinantes
não geram dem andas telefônicas em calidades superavitárias. por quilômetro relativo
volume suficiente para compensar os No nlano tecnológico, os sistem as quadrado por assinante*
elevados investim entos necessários à utilizaaos são compatíveis com a estru
implantação de infra-estrutura de tele tura fundiária. Em áreas de latifúndios, 0.2 720
510
0.4
comunicações. onde a densidade de usuários por km2 6 0.8 400
baixa, a utilização de cabos telefônicos é 1.6
economicamente inviável devido ao ele 4.0 200
vado custo relativo por assinante (ver fi 10.0 150
Marcelo Angra Ramos é professor do Dento. de En- 40.0 100
f enbaria do CTC da Universidade Federal da gura). Nessas circunstâncias, os assi * Telefonia rural
arai ba.
nantes são atendidos através de siste
T e l e f o n i a R u r a l - periências em diversos países demons
tram que os serviços públicos, saúde, es
tradas e até mesmo educação não são
U m a r e a l i d a d e b r a s i l e i r a ? eficientes sem comunicação.
A área rural deve ser integrada a
uma central telefônica, em geral ins
Colaboração de Andréa Lo Presti (Alcatel) talada na cidade mais próxima. Num
país onde 85% do seu território é consi
derado rural ou desabitado, onde 34 mi
Na maioria dos países, a telefonia ru O interiorano quer falar, apenas lhões de habitantes vivem numa vasta
ral é vista como o fator preponderante falar, sem nenhuma parafernália tec extensão, com falta de eletrificação,
no início do desenvolvim ento de um nológica, que venha a encarecer sobre saúde, educação e telecomunicações,
simples aglomerado de casas, uma fa maneira a sua comunicação. Vamos dei nosso principal objetivo, a telefonia ru
zenda, um povoado, um a vila, talvez xar isto para os países mais desenvolvi ral, é absolutam ente essencial para a
uma cooperativa. Na maioria dos casos, dos, onde o interiorano já faz parte da co modernização das infra-estruturas e
a telefonia chega antes do que qualquer munidade das cidades e onde a renda para o desenvolvimento das populações
outra atividade. No Brasil, este desen per capita é bem maior que a nossa. carentes. Somente assim, um povoado
volvimento tem que enfrentar as gran A infra-estrutura e a economia das ou vila de hoje se tornará uma cidade
des distâncias entre municípios, vilas e zonas rurais devem ser desenvolvidas. am anhã, com as facilidades mínimas
povoados. Antes, porém, de uma melhoria no nível n ecessárias p ara o seu desenvolvi
P re te n d e -se le v a r ao hom em do de vida, comunicações eficientes de mento.
campo todos os benefícios da nova tec verão estar disponíveis. Estudos e ex É dever do Governo e de toda a socie
nologia de com unicações: telex, fac- dade fornecer aos usuários carentes um
símile, transm issão de dados, etc. Isto sistema de comunicações que seja aces
custa tanto que a imensa maioria da po sível, competitivo em preço e que tenha
pulação rural não tem condições de en as condições mínimas para que o usuá
trar neste clube restrito a poucos e não rio possa se comunicar, que use o mí
terão capacidade nem infra-estrutura nimo de rede aérea que não seja danifi
para usar toda a gam a de facilidades cada por animais, deslizamentos de ter
perm itidas por equipam entos sofisti ra ou pelo próprio homem.
cados. Finalmente, chegamos a um perfil de
Na verdade, o anseio do homem do um sistem a de com unicação rural
campo, o interiorano, é, sem margem de operando com a maior simplicidade, que
dúvida, comunicar-se com o seu vizinho, seja acessível em preço, que não use re
com o povoado m ais próximo, com seu de externa na sua maior parte, que seja
médico, com o gerente de seu banco, com resistente às intempéries, funcionando
sua cooperativa, com seus parentes ou, “faça sol ou faça chuva” ou, em outras
até mesmo, embora muito raram ente, palavras, o telefusca rural - pau para
com as grandes cidades. toda obra! »
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