Page 28 - Telebrasil - Setembro/Outubro 1986
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Quo Vadis:
O s s e t e m e s e s d o C r u z a d o
José Raul Allegretti *
mas também no físico, encolhendo seus
ão havia como dar um aviso prévio
N produtos.
do congelamento. A parada súbita
dos preços fotografou os produtos, uns O CUSTO DA ALIMENTAÇÃO Os jornais noticiaram alguns depoi
em alta e outros em baixa. A redistri- mentos de consumidores: sabonetes es
buição da renda, para os trabalhadores, tão "folgados” dentro de suas embala
aliada ao vazio do "lucro” da correção gens, tubos de pasta de dente apresen
monetária sentido pelos poupadores, de tam visíveis "buracos” de creme, deso
flagraram um exagerado aumento do dorantes sacudidos mostram vazios de
consumo. conteúdo e barras de chocolate exibem
Quem foi congelado na alta, aumen espessura tão reduzida que se tornam
tou sua produção, e está ganhando di translúcidas.
nheiro como nunca. Quem foi pego no Em fins de fevereiro, vários setores
contrapé do preço baixo — quanto mais industriais, controlados pelo CIP, esta
produzir mais perderá — foge para as vam às vésperas de um aumento de pre
saídas de sobrevivência: pleitear subsí ços. O decreto do Plano Cruzado, por
dios e isenção de impostos, descontinuar tanto, congelou seus preços na baixa,
alguns produtos lançando novos mo deixando com problemas a indústria
delos, ganhar produtividade via redu farm acêutica, as montadoras de veí
ção de pessoal e modernização de proces culos, os fabricantes de cigarros, as in
sos, ou então partir para atos menos re dústrias de material de limpeza e as em
comendáveis como reduzir pesos e medi respeito dos credores externos. A espe presas de papel e celulose. Foi um ver
das ou cobrar ágio. culação Financeira anda desaparecida. dadeiro caso de "ser pego no contrapé”.
A escassez e o ágio são duas faces de Aumentou a produção e o consumo, caiu
uma mesma moeda, que mais e mais cir o desemprego, retomam-se os investi As críticas
cula, e cujos indesejáveis desdobramen mentos. Mas nem tudo são rosas. O ex
tos, como as greves, podem vir a prejudi cesso de demanda pressiona os preços O Descongelamento — O congela
car a consolidação do Plano Cruzado. congelados. mento distorce a economia porque cria
As fábricas não conseguem produzir excesso de oferta dos produtos congela
Turbulência na velocidade da procura dos balcões dos na alta e carência dos congelados na
das lojas. O ágio, como um preço disfar baixa. Ademais, a economia tem seu di
Após 7 meses de vida, o "Plano Cru çado, atinge a quase todos os setores da namismo, safras e entressafras, marke
zado” ingressa em zona de turbulência, atividade econômica. Ilá escassez de di ting, e outros fatores e iniciativas que
com declínio da mobilização popular, versos produtos, sobretudo os da ali convivem mal com seu engessamento
tendo de enfrentar ajustes indispensá mentação. A fiscalização da Sunab é de atual. Porém, com a demanda supera
veis. ficiente — não consegue punir exem quecida, descongelar agora, resultaria
Ninguém nega que a vistosa inflação plarmente nem mesmo os empresários numa explosão de alta dos preços.
mensal de 15% foi derrotada, pois, no que não respeitam pesos e medidas. Para criar expectativas de estabili
momento, mal passa de 1%. A populari dade, o Governo enfatiza a manutenção
dade do Presidente e do Ministro da Fa Fiscais do Sarney do congelam ento por muito tempo.
zenda continua altíssima e certamente Mesmo quando acontecer o descongela
será a grande arma para destruir os obs Quando a população se transformou mento, não se poderá prescindir de me
táculos ao Plano, que conquistou até o em "fiscal do Sarney”, a televisão, dia canismos de controle de preços.
riamente, dava destaque às cenas de su
permercados sendo fechados e seus
gerentes sendo levados às delegacias
policiais.
A INFLAÇÃO OFICIAL
Hoje, os supermercados se discipli v e s t u Ar io. u m vilão
naram e nem compram e nem vendem
mercadorias acima das tabelas Fixadas
pela Sunab. Essa resistência ao ágio
tem resultado em prateleiras vazias.
Mas a Associação dos Supermercados,
através de grandes anúncios em jornais,
está orgulhosamente informando que o
custo da alimentação nos primeiros seis
meses do Plano Cruzado, foi reduzido
em 3,45%.
Já no caso da indústria, a ganância
ou a necessidade de evitar prejuízos,
tem levado algumas a preferir atacar os
consumidores não somente no setor Fi
nanceiro — com a cobrança de ágio —