Page 19 - Telebrasil - Novembro/Dezembro 1986
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mente, o interesse maior, que é o do tações eram da ordem de 200 a 400 mil na instalação do telefone. Além disso, se
País. Parece-me que está ocorrendo um terminais por ano, em todo o País. Acho os telefones continuarem a ser implan
entrechoque de interesses, que estão difícil se fazer repentinamente um salto tados apenas através do autofinancia-
sendo todos colocados acima do interes para 1 milhão, por causa dos problemas mento, nunca conseguiremos ter linhas
se do Brasil. decorrentes da gerência dos investi para entrega imediata e esse deve ser o
mentos na expansão. Na verdade, o pla objetivo a médio prazo: telefones com
TB — Como o Sr. vê a divergência de no anunciado refere-se à implantação tarifas que cubram operação, amortiza
opinião entre o Ministério das Comuni de 4 milhões de telefones em quatro ção e lucro, mas sem que o novo assi
cações e o Ministério de Ciência e anos e não a implantação de 1 milhão nante tenha que pagar mais do que uma
Tecnologia? por ano. Não me parece viável implan taxa normal, correspondente ao custo
EQ — O Ministério das Comunicações tar 1 milhão de telefones no primeiro da colocação do aparelho em sua resi
tem um sistema operando e sua respon ano, mas se a política for mantida, acre dência.
sabilidade é atender ao usuário. As pes dito que teremos condição de chegar a
soas precisam de telefone, telex, comu mais de 1 milhão no quarto ano e ter TB — Em vários países, tem havido
nicação de dados, esta é a questão. Re uma média de 1 milhão por ano. Entre uma tendência à privatização das tele
pentinamente, o Ministério de Ciência e tanto, para que esse crescimento seja comunicações. O Sr. é de opinião que, no
Tecnologia resolveu im plantar uma mantido, precisamos ter em mente al Brasil, elas continuem estatizadas?
nova política, por pessoas alheias ao se gumas preocupações. Em primeiro lu EQ — O objetivo do serviço telefônico é
tor, o que pode prejudicar o bom anda gar, é indispensável que as tarifas se servir o usuário. Se a estatizaçáo for a
mento de todo o sistema. Tomemos como jam mais realistas. E necessário que a melhor maneira de servir o usuário, as
exemplo a siderurgia hoje, que é com tarifa do telefone do chamado assinante telecomunicações devem ser estatiza
pletamente digitalizada. Se quisésse marginal — com baixo volume de trá das. Mas se a privatização for a melhor
mos mudar os procedimentos de produ fego — cubra o custo de operação do ter maneira, então elas devem ser privati
ção a fim de usar somente computadores minal. Em outras palavras: quem tem zadas. Estatizaçáo e privatização não
fabricados no País, teríamos problemas telefone em casa, à sua disposição, tam devem ser consideradas como objetivo,
sérios: ou ficaríamos sem aço ou passarí bém deve pagar para ter essa facilidade mas sim como meio. Então, a discussão
amos a produzi-lo numa qualidade in caso contrário a empresa telefônica não não deve ser feita em torno disso. A
ferior às necessidades do usuário. Daí os grande questão envolvendo as teleco
confrontos surgidos recentemente e a municações brasileiras é a seguinte:
% % A •
preocupação com aspectos secundários.
pólio ou passar ao sistem a de livre
TB — Quais seriam estes aspectos concorrência? Segundo meu ponto de
secundários? vista, enquanto não tivermos um sis
EQ — A reserva de mercado é um deles: tema de telecomunicações que atenda
quando se quer implantar uma indús toda a população, com instalações a
tria é preciso haver reserva de mercado curto prazo e a preços acessíveis, o mo
durante algum tempo, isto é óbvio. Isto nopólio continuará sendo a melhor solu
foi feito em telecomunicações, mas a ção. Se não houvesse monopólio, o ser
questão importante é onde ter reserva, viço telefônico estaria restrito, como no
para que fim? É bom destacar que a re passado, aos grandes centros e seria
serva deve ter limites, como já mencio praticamente inexistente no interior. O
nei anteriorm ente. Ela não pode ser monopólio tem como contrapartida a
aplicada indiscriminadamente, para obrigatoriedade da prestação do serviço
não se ficar totalmente tolhido. Ela tem universal, pois pode exigir de quem o de
que ser aplicada de forma criteriosa, e tém que faça a implantação dos serviços
não de maneira indiscriminada. Se a re não rentáveis. No presente momento,
serva for excessiva ou muito prolon são inúmeros os casos em "que uma pes
gada, o usuário será o grande prejudi soa tem condições para pagar pelos ser
cado. Só se pode fazer um produto de viços, mas a empresa telefônica não
qualidade e de bom preço com a concor A prioridade deve pode atendê-la. Em outras palavras, o
rência: se um produto é bom e tem preço ser dada à indústria de serviço ainda não é universal, ainda não
acessível, ele é aceito. O interesse dos está ao alcance de todos. E até lá o mo
concorrentes é melhorar a qualidade de microeletrônica nopólio deve prevalecer. E monopólio,
seu produto e oferecê-lo a menor preço. em meu ponto de vista, só pode ser exer
E quem sai ganhando é o mercado, é o cido pelo Estado.
cliente. Por isso, o que interessa é ter
um produto de boa qualidade e bom pre TB — Algumas empresas privadas rei
vindicam a exploração de canais do Bra-
ço para atender ao consumidor brasilei teria condições de operar. O segundo silsat. Em sua opiniào, a exploração dos
ro e, dentro dessa idéia de qualidade e ponto diz respeito ao autofinancia- circuitos deve continuar restrita à
preço, um produto com o máximo de en mento. A sistemática fornece recursos Embratel?
genharia, de técnica e de mão-de-obra mas, por outro lado, exige uma pou
pança inicial relativamente alta. Os EQ — Como afirmei ànteriormente, o
nacionais.
atuais assinantes ou obtiveram a ins monopólio tem que continuar. A Em
TB — A demanda de telefones atinge talação de seu telefone sem custo, no bratel pode e deve alugar circuitos para
a constituição de sistemas privados,
hoje níveis extremamente elevados. Em caso dos mais antigos, ou então por um mas com uma ressalva da maior impor
sua opinião, o plano de 1 milháo de tele preço bem inferior ao custo total da ins tância: esses sistema só podem ser para
fones por ano durante os próximos qua talação — a parte restante era cobrada uso próprio pela empresa que os aluga e
tro anos, recentemente anunciado pelo pelas companhias telefônicas com o lu não para terceiros. Essa prerrogativa
ministro Antonio Carlos Magalhães, cro da operação. Se agora o autofinan- tem que continuar sendo da Embratel,
contribuirá efetivamente para atenuar ciamento passar a representar o custo para que ela possa continuar a atender
o problema? Q u a l seria a m e l h o r totafda instalação, os atuais assinantes
ficarão altamente privilegiados em re tanto às áreas rentáveis como às de in
solução? teresse social ou nacional. Tf
EQ — Durante muitos anos, as implan lação aos futuros, pois pagaram menos