Page 7 - Telebrasil - Setembro/Outubro 1980
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Indústria e
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José Cláudio Beltrão Frederico
Kngcnhciro; criou e implantou o IPqM — Instituto
de Pesquisas da Marinha. Criador e primeiro
presidente da COBRA e ex-diretor de projetos
especiais na Oi fibras.
1. Introdução especializados; o desenvolvimento tecnológico deve ser feito
Hoje já não é mais necessário demonstrar a importância da pes- em centros de desenvolvimento, do governo e das grandes em
ijuisaedo desenvolvimento— P&D— como instrumentos de presas. O desenvolvimento tecnológico a nível de produto
consolidação da indústria, fazendo com que seus produtos ad pode e deve ser leito pelas grandes empresas. Para isso, as
quiram condiçõesíde originalidade, de qualidade e de preço que grandes indústrias usarão, seus laboratórios próprios, podendo
viabilizem sua exportação. Também é pacífico que o caminho também encomendá-los aos laboratórios e centros do governo.
da maioridade econômica de qualquer país passa necessaria O governo deve desenvolver métodos e processos, divulgando
mente por sua capacidade de exportar. o resultado de seus trabalhos, como
Daí o vínculo natural e necessário e ntre forma de auxílio às pequenas e médias
indústria e pesquisae desenvolvimento. empresas.
0 tripé em que se apoia o poder econô 3. A Indústria de Informática.
mico nacional é constituído pela capaci A criação da Digibrás, em 1973, moti
dade de seu parque industrial; pelo nível vou o nascimento da indústria nacional
de desenvolvimento científico e tec de informática, em 1974, com a criação
nológico. que determina a variedade, a da Cobra. Anteriormente, em 1972, o
qualidade e o preço dos produtos; e pelo governo havia assinalado sua presença
sistema educacional, que forma os cien- com a criação da Capre — Comissão de
| tistas e técnicos que guarnecem as fábri Atividades de Processamento Eletrô
cas e os centros de P&D. O governo, nico. A Capre existiu até 1979, quando
com sua função de planejamento, fo suas funções foram absorvidas pela SEI
mento, orientação, supervisão e contro — Secretaria Especial de Informática.
le. entrelaça essas três colunas. No início, poucos acreditavam que a
Existe um vínculo
No entanto, entre a simples aceitação Cobra pudesse tornar-se viável dentro
e necessário entre ina
pacífica desses conceitos e a existência de uma atmosfera de transnacionais.
real de um eficiente sistema integrado tria, pesquisa e de sen Quando, após dois anos, estava implan
de centros de P&D, trabalhando em um vimento. tada e viabilizada, não faltou quem a
programa ordenado e harmônico de quisesse assumir e apresentá-la como
apoio à indústria, vai uma grande dis obra sua. Mais quatro firmas foram au
tância, que para ser vencida exige competência, muito esforço torizadas a fabricar minicomputadores. Pouco a pouco, foram
e enorme investimento. surgindo as indústrias de periféricos e terminais, que hoje so
mam 27. O importante setor de casas de software e casas de
2, A pesquisa científica e o desenvolvimento tecnológico bá sistemas só agora começa a desenvolver-se.
sico. É interessante não esquecer que a indústria brasileira de infor
Um esforço tecnológico bem balanceado deve incluir certo mática nasceu da necessidade de usar automação e controle em
grau de pesquisa pura, associado a uma percela bem maior de sistemas de armas, e da convicção de que o mercado militar
desenvolvimento tecnológico. não era suficiente para viabilizar uma indústria. Por outro lado,
P&D são atividades que, para serem produtivas, exigem muito os sistemas militares são uma adaptação dos sitemas industri
capital, tanto sob a forma de investimento fixo como sob a de ais. Por isso, deicidiu-se criar uma indústria de informática vol
custeio operacional. Daí a necessidade de haver uma autori tada para aplicações industriais, como base de onde derivariam
dade que atribua prioridade, oriente os esforços e distribua os sistemas militares, quando necessários. Além disso, a aplica
recursos. Em nenhum país se faz P&D só com as empresas pri ção de computadores a processos industriais é condição sine
vadas. Os Estados Unidos, que mais investem em P&D em ter qua non para conseguirmos exportar. Como primeira medida,
mos absolutos, possuem seus grandes laboratórios instalados e foi iniciado um programa de formação e treinamento de recur
operados com recursos públicos. Mesmo as grandes empresas sos humanos, ao mesmo tempo em que se criavam sucessiva
privadas que fazem P&D em seus próprios laboratórios, o fa mente a Capre, a Digibrás e a Cobra.
zem por encomenda e financiamento, pelo menos parcial, do A i ftobra, coerente com sua filosofia de criação, selecionou sua
governo. primeira máquina para controle de processo. Posteriormente,
pouco a pouco, a Cobra foi-se reorientando, com a mudança de
Em países como o nosso, P&D básicos só podem ser feitos sua estrutura acionária, passando a dedicar-se a aplicações
pelo governo, tal o vulto de recursos necessários. Pesquisa geranciais, com ênfase em aplicações bancárias. Em 1976, a
pura deve ser feita em universidades e em laboratórios Cobra adquiriu sua segunda tecnologia, a da Sycor, e a ela se