Page 24 - Telebrasil - Março/Abril 1980

P a d r o n i z a r a f o r m

o u a e s s ê n c i a l

A natureza nos mostra e ensina que: A grande maioria das pessoas é levada ficado das operações matemáticas, quç

— à evolução corresponde aumento de a padronizar a forma sem padronizar a uma vez aprendidas, permitem ao

complexidade e aumento de organiza­ essência. O resultado são atritos entre aluno resolver qualquer tipo de pro­

ção; padronizador e a realidade. Transito­ blema; nesse caso foi-lhe padronizada

riam ente, se o padronizador tem a essência.
— à evolução corresponde um au­

poder haverá uma furia legiferandus
mento de diversidade;

que causará a impressão de padroniza­ Um dos exemplos em que fica bem ní- j
— a diversidade crescente é de forma,

ção. Como todo corpo estranho, há um tida a aplicabilidade dessa noção é ex- *
pois todas as formas — orgânicas ou posta por P. Drucker em Prática de

inorgânicas — são, todas elas, consti­ processo de rejeição, e, em que pese a
qualidade do corpo estranho, mais Administração. Comentando sobre a

tuídas de uma variedade bem reduzida
cedo ou mais tarde, ele irá se degene­ necessidade da mercadologia atendera
de elementos químicos (cerca de uma rando até morrer completamente. variedade de necessidades do mercado

centena), por sua vez constituídos das
(maiores vendas) e à necessidade de
mesmas partículas elementares; Padronizada a essência, sem padroni­ padronizar os produtos para atender às

— há, portanto, uma DIVERSIDADE zar a forma, está garantida a harmonia necessidades de produção em larga es­

DE FORMA construída a partir de e o equilíbrio entre as diferentes formas cala (menores custos), P. Drucker mos­

uma UNIFORMIDADE DE ESSÊN­ que será necessário sejam criadas para tra que essas duas necessidades, apa­

CIA; que haja boa adaptação a um ambiente rentem ente conflitantes, podem ser

— quanto mais alto se encontra na es­ diversificado que se acha em perma­ conciliadas através de uma engenharia

cala evolutiva, maior o grau de auto­ nente evolução. de produtos bem feita — com alguns

nomia ou liberdade de escolha que componentes padronizados, constituir
Posto assim, parece um jogo de pala­

possui, ao que corresponde maior grau uma grande variedade de modelos. Os j
vras, apenas conceitos etéreos. Na rea­
de responsabilidade. artefatos elétricos de linha “Aristo­
lidade, está ocorrendo perm anente­

crata” e o brinquedo “ Mecano” con­
mente.
Ora, qualquer esforço no sentido de cretizam esse enfoque.

PADRONIZAR é, em realidade, um
Por exemplo, em um orçamento, a pa­

esforço de UNIFORMIZAR.
dronização de formulários é padroniza­ E importante atentar para dois pontos

ção de forma que, sem dúvida, facilita significativos. Há um tamanho e grau
O que mais comumente acontece é

a comunicação; mas a essência é que de complexidade até os quais é com­
querer uniformizar a forma, uniformi­
exista um plano de contas padroni­ pensador a padronização da forma.
zar o produto final. É um esforço que,

zado. Em caso de qualquer mudança Desse limite em diante, só a essência
por ser contrário à natureza das coisas,

é antinatural, e só por imposição coer­ ou de novas necessidades: no primeiro deve ser padronizada.

caso, terá que ser refeita a padroniza­
citiva consegue ser usado. Por isso
ção a cada mudança, e se for fre- Esse é o conceito que está na raiz do
mesmo, com o tempo, vai sendo de­

qüente, é muito provável não só a momento, a partir do qual a autoridade
turpado. Ou então, se a coerção o

perda de coerência, mas pior, a propa­ de execução precisa ser descentrali­
mantém intacto, torna-se rígido e, em

gação de confusão, ou então, a pri­ zada. A história da Ford, líder nas
pouco tempo, ultrapassado pelo pro­

meira padronização ficará rigidamente questões de padronização, bem ilustra
gresso.

estável sem atender à mudança de ne­ esse ponto.

A forma é conseqüência da essência. cessidades; no segundo caso, qualquer

Se a essência é uniforme, a forma po­ nova necessidade pode ser rapida­ Outro ponto importante é que padn>

derá ser diferente, porque adaptada a mente obtida com novos rearranjos dos nizar a essência requer uma experiên­

cada circunstância no tempo e no es­ mesmos elementos básicos padroniza­ cia e um amadurecimento muito makH

paço. Tomemos como exemplo um vo­ dos. Vale a pena acrescentar que res do que o necessário para padroni;

cabulário. Se a forma fosse padroni­ mesmo na padronização do plano de zar a forma; talvez só seja possíve»

zada, a quantidade de palavras seria contas, os nom es são a form a do chegar ao primeiro passando pelo $e

limitada, não haveria sinônimos; po­ plano; é importante padronizar a sua gundo. Por isso, a padronização da es

rém, se o significado (essência) não for essência — os eventos empresariais a sência é mais demorada, embora seis

uniforme, cada um usará as mesmas que conta devem corresponder. mais duradoura. A padronização^

palavras para significar idéias diferen­ forma é rápida tanto na sua elaboraç^

tes e o entendimento será muito baixo. Outro exemplo refere-se ao ensino de quanto na sua vida; por isso, é n#

Caso, porém, o significado fosse uni­ matemática. Há cursos que “ ensinam” adotada em um mundo que valoriza'

forme para todos, o vocabulário pode­ a resolver problemas tipos; ou seja, rapidez da mudança sem preocupa^ ,

ria ser diversificado à vontade; é irre­ padronizam a form a, qualquer m u­ com a durabilidade.

levante a forma desde que o objetivo dança na forma do problema, e o aluno • ' I

da comunicação seja atingido. A “ la­ não sabe mais resolver, porque “ o pro­ Para chegar ao complexo é pre^-

vagem cerebral” é uma forma de pa­ fessor não ensinou” ; fica na dependên­ palmilhar o simples.

dronização de essência, no caso, ideoló­ cia da iniciativa do professor. Há outra

gica. modalidade de curso que ensina o signi­