Page 45 - Telebrasil - Setembro/Outubro 1978

rem integradas em processos, é mais uma
característica distinta daquelas que se en­
contram nas aplicações comerciais.
As informações acima relacionadas são ne­
cessárias a uma boa visão do mercado bra­
sileiro, que desenvolveu-se rapidamente a
partir dos anos 60 e chegou a 1973 como
11.° maior mercado mundial para apli­
cações comerciais e científicas. Nesse to­
tal não se incluem os sistemas de controle
de processo que entram no pais sem desco­
brir sua identidade, classificados como ins­
trumentação ou sistema de automação e
controle da maquinaria principal para pro­
dução de bens de capital. O mercado brasi­
leiro cresce a taxas anuais altíssimas, só
superadas pelas marcas do mercado japo­
nês.
Torna-se prioritário o trabalho atualmente
em desenvolvimento que objetiva um maior
conhecimento do mercado brasileiro para
aplicações industriais. Além de levantar o
mercado existente, há a necessidade de se­
rem vencidas algumas falácias que estão
perturbando o bom crescimento do merca­
do de controle de processos no sentido de
vir a ocupar sua dimensão normal. Essas
falácias são, entre outras:
• computadores só são úteis se forem do
último estado da arte;
• é mais importante desenvolver primeiro
uma Indústria de software para depois pen­
sar na fabricação de hardware e, em conse­
quência, enquanto se desenvolve a capaci­
dade de software, deve-se importar o hard-
ware necessário;
• aplicações industriais são inerentemente
deficitárias pelo tamanho insuficiente do
mercado, pelo longo prazo de desenvolvi­
mento de cada sistema e pelo esforço que
requer a abertura desse segmento do mer­
cado;
• inexiste competência humana para de­
senvolver o software necessário;
• não dispomos de uma máquina própria
para esse tipo de aplicação.
No campo da eletrônica
Pode-se afirmar com segurança que é este
o setor mais fraco do espectro industrial
brasileiro. Existem
multi- ou trans-nacionais que dominam o
mercado, porque podem fazer em suas ma­
trizes a pesquisa e desenvolvimento que le­
vam ao projeto e à engenharia, fazendo no
Brasil a montagem ou alguma produção
elementar, aproveitando o baixo custo da
mão-de-obra.
São empresas que têm porte e estrutura ca­
pazes de resistir às freqüentes e profundas
flutuações do mercado que, no entanto,
são fatais para as subdimensionadas em­
presas nacionais. Por outro lado, a es­
tratégia de produção das multinacionais,
nada tem de necessariamente coincidente
com a estratégia industrial que mais
convém ao Brasil.
Resulta que um mercado significativo co­
mo o nosso de eletrônica, por suas próprias
condições de instabilidade e pelo porte fi­
nanceiro das empresas brasileiras, perma­
nece nas mãos de empresas estrangeiras.
E dai o interesse dessas empresas que des­ Empresa Digitai Brasileira, no ano de 1970,
frutam o mercado, em manter o status quo. que coincide com a aquisição de novos na­
vios para a Marinha de Guerra.
Dois pontos merecem, ainda, uma referên­
cia rápida para completar o cenário: primei­ Esses navios eran\tratados como um siste­
ro, o computador em si, o hardware, não re­ ma complexo, controlado por computador,
presenta a parte financeiramente mais im­ tanto do ponto de vista do armamento co­
portante dos sistemas de eletrônica digital. mo também no que se refere ao controle
Em paises que já possuem uma sólida ativi­ das operações táticas. Na ocasião, a Mari­
dade de casas de software e empresas de nha, dentro da política de promover o de­
sistemas, o computador pode representar senvolvimento e a fabricação de equipa­
em torno de 10 a 20% do preço do sistema, mentos eletrônicos pela indústria nacional,
ficando a melhor parte para o software de passou a se preocupar com o problema de
aplicação e para a engenharia de sistemas. reposição de peças sobressalentes, nacio­
nalização dos equipamentos e o adestra­
Ponto interessante a ser notado é que a mento do pessoal.
indústria de software de aplicação e de sis­
temas só ô possível depois que no pais Coube ao Comandante José Luiz Guaranys,
exista uma razoável indústria de base, ca­ Engenheiro Naval, deflagrar o processo.
paz de absorver a produção de computado­ Por motivos econômicos, era inexeqüível
res. Só depois de implantada a fabricação fabricar computadores somente para na­
de máquinas podem nascer as oportunida­ vios da Marinha. Estava claro que a utili­
des para o software de apoio e de aplicação zação de equipamentos de características
comercial. semelhantes, em aplicações industriais por
empresas públicas e privadas do país, po­
Já o software de aplicação Industrial exige deria criar a necessária economia de esca­
o trabalho Interdisciplinar dos técnicos do la.
processo industrial com os técnicos de
computação, analistas, engenheiros e pro­ Por outro lado, por insuficiência de verbas
gramadores. E mais do que esse esforço na Marinha para este programa — e porque
conjunto, exige a vontade dos usuários, o Interesse envolvido transcendia o seu âm­
dos dirigentes das grandes indústrias bito —- seria necessário um aporte de recur­
públicas Q privadas, no sentido de correr o sos do outras fontes. Concomitantemente,
risco, em beneficio do interesse maior na­ o Banco Nacional de Desenvolvimento Eco­
cional, de abrir o processo industrial em nômico (BNDE), através do Fundo Nacional
marcha para inserir no circuito de controle de Tecnologia (FUNTEC), vinha desde 1968
o produto nacional. procurando detetar setores deficientes nos
quais se fizesse necessária, por sua impor­
Em outros setores dos grandes projetos de tância, uma ação para promover o rápido
engenharia — Itaipu, Tubarão, Angra dos avanço tecnológico visando ao desenvolvi­
Reis, Tucurul — a idéia da aceitação do mento econômico nacional.
produto nacional já tem muitos e importan­
tes defensores. No entanto, a nascente A indústria de eletrônica digital, além de se
indústria da informática ainda tem que ven­ constituir em necessidade de Segurança
cer sua primeira batalha. A importância Nacional, lncluia-se entre as chamadas tec­
desta luta é tão grande que é vital atirar-se nologias de ponta, que iriam permitir,
a ela sem medir esforços. através de seu efeito multiplicador, desen­
volvimento em outras áreas correlatas. Pa­
E, atualmente, o quadro que se coloca é de ra prover os indispensáveis recursos huma­
um esforço conjunto de todó o parque in­ nos, programas de pós-graduação deve­
dustrial brasileiro, público e privado, e dos riam incorporar-se ao processo.
níveis mais altos administrativos, dos
executivos até os gerentes, pois sem esse Com dois objetivos imediatos, e em conse-
engajamento não serão alcançados os re­ qüêncla dos interesses comuns do Mi­
sultados necessários em tempo útil. nistério da Marinha e do então Ministério
algumas empresas do Planejamento, foi criado, em 1971, um
Trata-se da abertura das caixas pretas dos Grupo de Trabalho Especial, com duração
grandes pacotes de engenharia que temos, determinada de quatro anos de vida. Era o
ainda, necessidade de importar. Nas cai­ GTÇ/FUNTEC 111.
xas pretas desses projetos, no controle dos
processos industriais, está a solução de to­ O primeiro objetivo visava à produção local
do o parque nacional de eletrônica, não só de minicomputadores e o segundo consis­
o de informática, mas as comunicações, a tia em promover as condições necessárias
radiolocação, os entretenimentos, etc. para projetar, desenvolver, industrializar e
comercializar um equipamento de con­
Os componentes, a micro-eletrônica, os se­ cepção atualizada, com tecnologia nacig-
micondutores, são os mesmos em todos es­ nal de software e hardware.
ses setores. E é possível afirmar que talvez
seja esta a última oportunidade de viabili­ Com o apoio financeiro do BNDE e da Fi­
zar a indústria eletrônica nacional. E isso nanciadora de Estudos e Projetos (FINEP),
vai depender da união do esforço de todos o GTE deu os passos iniciais para a consoli­
os que têm a responsabilidade de decidir e dação desses objetivos. A fim de criar uma
executar. estrutura adequada para, através de trans­
ferência de tecnologia de sócio estrangei­
A infância de uma indústria ro, dar início à produção de minis, optou-se
por convidar todos os importantes fabrican­
É dentro deste contexto nacional que vale a tes mundiais de minicomputadores que se
pena remontar ao passado e registrar o am­ dispusessem a aceitar as condições esta­
biente que permitiu a criação da Digibrás — belecidas pelo Governo brasileiro.