Page 43 - Telebrasil - Maio/Junho 1976
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F a r a n i s e C a s t a n h e i r a s
LUÍS CARLOS DE PORTILHO
Consultor Jurídico do
Ministério das Comunicações
Fugindo ao estilo de um trabalho técnico e aos lugares comuns das rocordações que sidônio, elo mesmo, então muito moço,
envolvem as comemorações do 1.° centenário do invento do telefone, Luis Carlos de detestava as salas de aula e de confe
Portilho, através de uma crônica, leve, despretensiosa, presta um dopolmonto a res rências o quando, por vezes, nos acom
peito do precário serviço telefônico dos anos 20 e 30. Ele destaca uma cidade — panhava ao Asilo de Inválidos de Ca
Carangola — e uma pequena e corajosa empresa — a Telefônica Farani. Entrando rangola, galgando, penosamente e ar
esta em insuperáveis dificuldades, pela carência de recursos, já que, entáo e durante fando, a Rua Santa Luzia, ponderava,
muitos anos, a moda ora negar-se tarifa òs empresas concessionárias de serviços Intrigado, como nos desincumblamos do
públicos, o autor da crônica, universitário entáo e jovem jornalista, propelira uma cargo de Provedor: “ Por que essa preo
campanha em prol da denúncia do contrato da Telefônica Farcni, com o objetivo de cupação pela velhice desamparada da
abri; caminho para que, em sua terra, pudesse implantar-se um moderno e eficiente parte de um moço de 23 anos que re
serviço telefônico. lega o lazer a segundo plano e ató o es
A crônica recorda, com certo remorso, o que fora a árdua peleja, mas enaltece, quece?” Possidônio, naquele tempo, era
com justiça, simpatia e saudade, o trabalho leal e infatigável de Pedro Renault Cas- um grande perguntador. Seu espírito ain
tanheira, o apóstolo da trilogia — vitoriosa enfim — para a solução do problema da não amadurecera para a pesquisa dis
telefônico no Brasil: autofinanciamento, tarifas revistas a todo tempo e indústria na creta, a descoberta pessoal das coisas.
cional de equipamentos telefônicos. Preferia interrogar.
A Redação
Ganhara rápida fama o quinzenário. Im
plicante, mas sempre vitorioso. Nutria-o,
nesse terreno, o desmazelo oficial, alvo
Inflexível e perguntador, Possidônio nos dosa publicidade, — que nos permitia o de suas constantes críticas e sugestões,
propusera a questão: luxo de distribuir o jornalzinho gratuita o que trazia a bondosa tia Lucinda per
— “ Por que tanto emgepho em guer mente, no Município e na região, pres manentemente inquieta, temerosa de que
rear essa pobre e infeliz empresa se o cindindo o pagamento de assinaturas e a incolumidade física do sobrinho pudes
seu proprietário, alquebrado e respon ainda propiciava uma sobra razoável pa se sofrer algum arranhão... Uma bata
sável pelo sustento de numerosa famí ra o prazer de um frango ao molho par lha pela construção da estação da Es
lia, não dispõe de recursos para me do, em cada trimestre, após a satisfa trada de Ferro Leopoldina nos revelava
lhorar o serviço?” . ção de todas as despesas pessoais. Du aos olhos dos carangolenses, especial
rante a permanência em Carangola, nas
outras duas semanas, entregávamo-nos mente ante os filiados ao “laissez pas-
Estávamos, realmente, naquele tempo, de ao afã de “fabricar” novas edições do ser”, como um visionário, lenda que so
1932 a 1934, empenhados em denunciar quinzenár'o, contendo o resultado das mente desapareceria quando o prédio, em
o contrato municipal da Empresa Tele investigações anteriores e proclamando lindo estilo colonial moderno, sobrepu
fônica Farani. Por isso e com esse ob as denúncias das mazelas locais, entre jando a própria cidade, fora inaugurado.
jetivo, púnhamos um vigor de moço — i
elas, a galopante deterioração do já pre Hoje, distante da terra natal, dela esque
de moço universitário — a descobrir as cário serviço telefônico. Havia o propó
irrecuperáveis deficiências do anacrô cido até, refletimos sobre a inutilidade
sito de construir, melhorar, conquistar da árdua campanha — uma vitória co
nico serviço telefônico de Carangola — benefícios para a coletividade. O quin
a terra natal — e, a seguir, com pra zenário era objetivo e prático. Dinâmico, mo as de Pírrxy -=L pois tanto se insiste
zer satânico, elas eram divulgadas no em afirmar que* á via férrea será total
conquistara rápido prestígio. Ao tempo, mente erradicada, ela que já foi ampu
pequeno jornal que conseguíamos man Carangola era o 4.° município mineiro
ter. Era um tablóide quinzenal. Não po na relação das rendas públicas. Osten tada na direção do Estado do Espírito
dia sei senão um quinzenário; fazíamo- tava importância e ambição. Santo e Manhuaçu. Não importa: o pré
lo após duas semanas, de cada mês, dio tem estilo, arquitetura e nobreza pa
passadas no Rio, frequentando a Facul Os colegas da Faculdade, nossos con ra servir de sede à Prefeitura local.
dade Nacional de Direito, da Rua do terrâneos e de outras cidades, também A campanha pela destruição da Empre
Catete, que, um dia, passaria a funcio do círculo afetivo longa e seguramente sa Telefônica Farani prosseguia buscan
nar na Rua Moncorvo Filho; a quinzena construído, que tinham os estudos e,
do a v i t ó r i a , m a s e s c a s s a s eram as ade
seguinte a essas duas semanas era con além destes, o próprio ócio, financiados sões.
sumida, em Carangola, na feitura das por pais abastados, estranhavam nosso
duas edições mensais dc jornal. Durante pendor para coisas sérias numa idade Evidentemente, o velho Farani não se
a estada no Rio, angariávamos a pu em que o espírito universitário concita sentia tranquilo; percebia o perigo do
blicidade, — boa, enobrecedora e ren va a ocupações de outra natureza. Pos cerrado e impiedoso ataque movido à