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«FREIOS PARA LEVIATA»
A Revista das Classes Produtoras, edição de Novembro do ano
findo, publicou o seguinte- trabalho do Sr. Roberto Campos,
atual embaixador do Brasil nos Estados Unidos
sob titulo “FREIOS P A R A L E V IA T A ” :
«Poucas coisas haverá mais urgen é justificável, e necessário, que o Es
tes que a formulação de uma teoria tado assuma funções muito mais am
racional e objetiva sobre o grau, for plas do que na era do «desenvolvimen
ma e limites da intervenção estatal to espontâneo» do século 19 e albor
convinhável às economias subdesen do século 20. A motivação do desenvol
volvidas. Assim não pensará o grupo vimento vinha então do lado da pro
pequeno, porém, árdego, de estatistas dução, sendo seu protagonista o em
e socializantes, que entre nós viceja e
presário dinâmico, que se antecipava
que reza, no altar de Leviatã, ao Esta
ao mercado. Nos países subdesenvol
do todo-poderoso. Para estes a teo
vidos de hoje, o desenvolvimento eco-
ria a adotar é simplesmente o rever nomico é, na maioria dos casos, de
so da de Hobbes. Quanto mais inter tipo «derivado». São as aspirações de
venção, melhor. E’ que isso facilitaria
consumo das massas que estimulam
consumar-se, sem efusão de sangue, o
os governos a emularem o elenco de
que Glycon de Paiva chamou de «noi
produção e de consumo dos países
te tcheco-eslovaca», ao fim da qual
mais adiantados, em face de uma clas
um país que adormecera capitalista
se empresarial anêmica. Mas há outras
acorda socialista.
motivações válidas para o alargamen
Para a maioria de nós, entretanto,
to da ação estatal, decorrentes das
que desejamos a preservação das ins
imperfeições do mercado ou do meca
tituições do capitalismo social — aper
nismo de preços. O mercado é, às ve
feiçoado por preocupações de equida
zes, pequeno demais para encorajar a
de e justiça distributiva e purificado
de seus aspectos predatórios, porém concorrência, prestando-se a abusos
monopolísticos. Existe risco excessi
não castrado em seu vigor produtivo
vo em alguns empreendimentos, devi
ou nas liberdades básicas da democra
do a rápidas transformações estrutu
cia — a questão é relevante. Diga-se
de início que o problema do interven rais da economia. Urge, às vêzes, in
cionismo estatal é distinto daquele do tervir para atenuar desigualdades pe
planejamento. Se é verdade que o pla nosas na distribuição de renda entre
nejamento socialista, centralizado e diferentes classes e diferentes regiões
totalitário, é incompatível com o ca do País. Ocorrem, finalmente, fatores
pitalismo social, formas existem de tecnológicos, pois que a produção mo
programação e planejamento que são derna se encaminha cada vez mais no
politicamente neutras, podendo ser sentido das unidades de larga escala
usadas quer para asfixiar a iniciati (grandes centrais elétricas, grandes
va privada, através de restrições, quer usinas siderúrgicas etc.), exigindo in
para encorajá-la, através de incen vestimentos maciços e de rentabilida
tivos. de diferida, dificilmente mobilizáveis
A o fazer a análise (e por que não pela débil iniciativa privada dos paí
psicoanálise?) dos impulsos em favor ses subdesenvolvidos.
do intervencionismo estatal, depara Mais interessante, entretanto, é
mos de início com motivações válidas analisar a motiVação espúria, que está
e motivações espúrias. Parto da pre na raiz dos nossos exageros interven
missa, que dou por assente, de que cionistas. Êsses argumentos são a ilu
nos países subdesenvolvidos de hoje são transpositiva, a tradição paterna-