Page 11586 - Revista Telebrasil

DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO presentam, por força de sua vincu- d) os prazos de entrega, para os fa­

lação. tores utilizados pelas empresas do

mesmo grupo internacional; além disso Governo, não podem ser demasiado

o próprio projeto de suas instalações O Estado de Espírito longos, eis que este tem sérios com­

industriais já ê feito baseado em pa­ promissos de fornecimento de bens e

drões utilizados em outros países, di­ Já mostramos que o desenvolvimento serviços ao público e às empresas

ficultando o uso de bens de capital tecnológico, no Brasil, dependerá nacionais (e por vezes, para expor­

produzidos no Brasil. Quanto às em­ profundamente da atuação das gran­ tação);

presas do Governo, sua atuação me­ des empresas governamentais.

rece uma análise separada, que ten­ e) a criação de tecnologia própria é

taremos, embora superficialmente, efe­ Essa atuação, salvo melhor juízo, para demorada, pouco rentável a médio

tuar no decurso de nossa exposição. que se torne eficaz, quanto ao aspecto prazo, enquanto a tecnologia impor­

que estamos abordando, pressupõe a tada é cara, porém, disponível;

crença na capacidade nacional de es­
— a inexistência de um mercado que

tudar, projetar, desenvolver e produzir f) os produtos (bens de capital em es­
justifique investimentos em desenvol­

vimento tecnológico traz, como con- bens, com sofisticação crescente e pecial) fabricados no País são, obri­

seqüência, o encarecimento demasia­ baseada, progressivamente, em maior gatoriamente, mais caros que os con­

poder de criatividade autônoma, as­ gêneres estrangeiros, entre outros
do desse mesmo desenvolvimento,

uma vez que o mesmo passa a ser, não sociada ao bom aproveitamento de motivos em razão das economias de

mais uma função ligada à relação cus­ tecnologia disponível em âmbito inter­ escala já alcançadas nos países indus­

to-benefício, mas, apenas, um ônus a nacional. trializados;

ser suportado por estruturas cuja fi­

nalidade seja a pesquisa em si mesma, Poderá parecer, o que foi dito acima, g) a necessidade de treinamento de

e, portanto, de uma forma ou de outra, uma elocubracão acaciana. No entan- mão-de-obra local, absorção e fixação
ê

estreitamente vinculadas ao Governo, to, e infelizmente, não é tanto assim. de tecnologia, aprendizado experimen­

capaz de prover os meios e fundos % tal dos "truques" de produção, inviabi­

para a obtenção dos resultados al­ , As empresas de economia mista, lidade do uso de máquinas de grande

mejados; atuantes na área econômica da pro­ produção automatizada, levam a pra­

dução de bens ou prestação de ser­ zos de entrega maiores do que as que

— como corolário do fato citado acima viços, cabe o relevante papel de bem se podem conseguir no mercado

decorre uma situação que muito se as­ cumprir suas missões: produzir com al­ externo.

semelha a um circulo vicioso: o alto ta qualidade e baixo custo, servir com

custo da pesquisa, a ser suportado eficiência e confiabilidade. A lista de fatos "perplexantes" ineren­

pelo Governo, limita a plena utilização tes ao contexto brasileiro poderia ser

da infra-estrutura educacional de alto Ao Governo cabe, pois, a difícil tarefa, mais longa, mas acreditamos já ter

nível (um dos pré-requisitos do desen em sua dupla qualidade de responsável material para profunda meditação,

volvimento), já que a educação e a pela catali/ação e aperfeiçoamento como os já referidos anteriormente.

pesquisa se complementam e os recur dos processos produtivos e de grande

sos disponíveis são limitados; acresce usuário dos resultados tangíveis des­ Qual será a chave para a solução do

que a existência de apenas poucos ses mesmos processos, de conciliar e impasse delineado na exposição feita

centros de pesquisa, com parcos promover, exigir e incentivar, sem o reveladora de incompatibilidades, tal­

recursos, favorece a já famosa fuga que, nada poderá ser obtido. vez até incontornáveis no modelo in-

dos cérebros, fato usual nos países dustrial-tecnológico brasileiro?

menos desenvolvidos; a falta de recur Tentaremos alinhar, a seguir, alguns

sos humanos tem, como conseqüên- fatos mais marcantes desse complexo Se fosse possível encerrar em uma

cia, a diminuição das possibilidades de universo em que o Poder Público atua, palavra apenas o que se nos afigura

desenvolvimento tecnológico, trazen como parceiro do Empresário Privado como a melhor resposta para esta

do, além de tudo, a escassez da ca­ e como fornecedor de Bens e Serviços questão, escolheríamos o verbo

pacidade gerencial nesse campo, por à Nação em geral: ACREDITAR. Acreditar no que po­

pura inexistência do desafio e da a) o fornecimento de bens e serviços demos e devemos realizar, acreditar na

prática respectiva. de qualidade pressupõe a utilização de validade dos custos a serem pagos

fatores com alta qualidade (máquinas, pelo desenvolvimento, acreditar que

Concluímos que a conjuntura brasileira equipamentos, especificações, etc...); vale a pena, apesar de tudo o que

pareça indicar o contrário, "pagar para
atual não poderá ser propícia ao de­

senvolvimento tecnológico sem o b) a obtenção local de fatores com alta ver", com realismo, com consciência,

grande incentivo das empresas vin­ qualidade pressupõe uma via crucis com os pés no chão — levantando-os

culadas ao Governo, via de regra de erros e acertos, convergindo, se tu­ um pouco se preciso for —, pois só a

detentoras de um mercado de pro­ do correr bem, para o paralelismo com crença e a autoconfiança são, como

dutos ou serviços do gênero mono- fatores existentes no mercado externo; sempre foram, capazes de levar o
homem à frente, ao longo da História.

polístico ou semi-monopolístico e,

além disso, de porte suficiente para in­ c) o poder aquisitivo da população

centivar a pesquisa e o desenvolvi­ exige produtos e serviços que não O Governo acredita no Brasil. E nem

mento de produtos, materiais, técnicas sejam muito custosos, sob pena de poderia ser diferente. E é o Governo,

e sistemas no País, agindo também em ficarem fora do alcance do consumidor através de suas empresas, que acredita

nome do interesse nacional que re­ (pessoa física ou jurídica); na viabilidade da indústria nacional, na