Page 11 - Telebrasil - Setembro/Outubro 2000
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Balança comercial: fator decisivo para
o setor de telecomunicações no Brasil
Márcio Araúio de Lacerda mico do País, com conseqüente aumento
da renda nacional e melhor distribuição
A privatização das dessa renda.
Quando se observa o balanço de paga
telecomunicações no mentos do Brasil, vemos um déficit em
torno de USS 25 bilhões no item Transa
Brasil foi e continua ções Correntes. Até junho último, nossa
Balança Comercial de eletroeletrônicos
sendo um terremoto acumulava déficit de USS 2.65 bilhões e
o setor de telecomunicações contribuía com
setorial sem paralelo em USS 690.4 milhões para este resultado
negativo. Dos USS 565.4 milhões expor
nossa história.
tados pelo setor no primeiro semestre, USS
285.6 milhões - o número mais expressi
vo - eram de telefones celulares, que têm
m volume, extensão e profundida
E cerca de 60% de seus componentes ad crescimento da base de usuários. Sem cres
de, nunca um setor sofreu tama
quiridos no exterior. Em 1997, 1998 e
nha reviravolta cm tão pouco tem
1999, somados, as telecomunicações pro
po, afetando de forma radical a vida de cimento da renda per capita e melhoria da
consumidores, Governo, investidores, for duziram um déficit de USS 6.68 bilhões distribuição dessa renda, será difícil cum
necedores e trabalhadores. na Balança Comercial. prir as metas de expansão de rede.
No que diz respeito ã quantidade de E todos sabem que a Balança Comer Não espero que as operadoras assu
serviços colocados ã disposição do público cial vem sendo um entrave à sustentação mam o papel de agências de fomento,
e de terminais instalados no País, o cresci dos movimentos de retomada tia econo contudo acredito que o seu futuro no Bra
mento é notável. A qualidade dos serviços mia, pelo simples fato de que o aqueci sil não pode ser desvinculado do cresci
tem registrado altos e baixos, mas a ten mento da demanda resulta em nova pres mento da economia nacional. Elas têm
dência é de melhora. são importadora c mais queda na expor em mãos um forte indutor de desenvolvi
Sc analisarmos o possível retorno dos tação, já que todos se voltam para o mer mento, que é o poder de compra. Se im
investimentos feitos na aquisição das te cado interno. Como não temos mais con portarem menos e derem preferência à
les e na infra-estrutura exigida para cum dições de elevar o déficit, frea-se o aque compra da produção nacional, estarão
primento das metas estabelecidas pela cimento econômico. gerando empregos, renda e mais deman
Anatei, chegaremos á conclusão de que a O fato é que as empresas de serviços da por seus serviços entre nós. Poderiam
venda foi muito bem feita também do pon públicos nunca tiveram capacidade expor até ir mais longe, convidando operadoras
to de vista financeiro. tadora para bancar suas remessas de do mesmo grupo instaladas em outros
Este último item analisado, porém, nos royalties, dividendos e juros para fora do países a importar do Brasil.
leva a uma preocupante constatação. País. Conforme alertei em artigo aqui pu Com o setor de telecomunicações ex
Mesmo aquelas operadoras que pagaram blicado - edição maio-junho de 1997 -, portando USS 1 bilhão a mais e impor
um preço mínimo pelas teles da sua área algumas operadoras internacionais funci tando USS 1 bilhão a menos, por exemplo,
de concessão terão dificuldade em conse onam como braços agressivos de política teríamos um acréscimo de USS 2 bilhões
guir remuneração satisfatória para os in industrial de seus países de origem. Trans no hoje medíocre saldo da nossa Balança
vestimentos realizados. Os segmentos da formam o nosso mercado num importante Comercial, alterando as expectativas dos
sociedade com potencial para consumo de abrigo para a produção de parceiros, im analistas financeiros internacionais e faci
serviços rentáveis não são suficientemen portando de lá equipamentos e empresas litando o crescimento do País.
te grandes para abrigar todos os concor de serviços de engenharia. Assim, as ope Meu raciocínio vale para qualquer gru
rentes que hoje disputam o mercado. Fora radoras acabam por aumentar o fluxo de po econômico em operação no Brasil: in
desses segmentos, o que tem crescido são importações no setor de telecomunicações centivar exportações e diminuir importa
serviços de baixa rentabilidade para as e por agravar os problemas já existentes ções, hoje, é defender o próprio bolso. Não
operadoras, como o celular pré-pago. no nosso balanço de pagamentos. podemos fingir que nada temos a ver com o
Para garantir o retorno dos seus investi Muitos podem defender a teoria do lu imenso buraco nas contas externas do País.
mentos, conquistando usuários de bom cro a qualquer custo, mas uma coisa é cer
poder aquisitivo e adimplentes, as opera ta: os ganhos sobre a operação dessas pres Márcio Araújo de Lacerda é diretor da
doras dependem do crescimento econô tadoras de serviços dependerão muito do Telebrasil e presidente da Construtel.