Page 59 - Telebrasil - Janeiro/Fevereiro 1999
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Economia
U m a a r i t m é t i c a d g c r i s e
Sydney A. Latini
partir dc 16 de janeiro último, o
A etapa. A tão desejada c esperada nossas exportações (segundo as primei com a desvalorização cambial.
São essas algumas expectativas que au
ras manifestações) em relação ao ano
Plano Real ingressa numa nova
torizam prever uma reversão do déficit de
passado, desde que se confirme a dispo
desvalorização do real e a adoção de nova ção dos exportadores em compensar as l ISS 6,5 bilhões, em 1008, em um superávit
si
política cambial, com flutuação da taxa, perdas internas de mercado com a con de USS 2,5 bilhões, em 1999, a par de uma
cria algumas expectativas positivas, a solidação c conquista do mercado exter redução de déficit cm transações correntes
par de muitas incertezas. no, bem como o rigoroso cumprimento de USS 34,0 bilhões para USS 30,0 bilhões.
A primeira sensação foi de alívio, pois, de compromissos do governo em dar O acordo com o FMI prove um piso dc
se continuasse a instabilidade decorren apoio creditício e fiscal à produção des l SS2Ü,0bilhòes para as reservas cambiais
te da insistência em defender uma taxa tinada aos mercados externos. líquidas. Um grande esforço terá dc ser feito
de câmbio indefensável, correríamos o Kspcra-sc que preciosas divisas sejam para que não nos aproximemos desse limite.
risco de perder rapidamente nossas reser poupadas com a importação dc automó A desvalorização do real não conteve, na pri
vas internacionais e atingir taxas dc juros veis, por exemplo (mais dc US* 6,0 bi meira semana, a sangria de divisas.
absolutamcnte impraticáveis. lhões em 1098, o equivalente ao déficit One prognósticos podem ser feitos,
A inflação, da qual criou-se a impres da balança comercial), que terão seus no primeiro momento, sobre a flutuação 59
são de nos termos livrado, volta à cena, custos no mercado brasileiro também da taxa de câmbio? O grande receio de
mas sem constituir séria ameaça, desde aumentados, c que as montadoras aqui abandonar o sistema de bandas (que es-
que bem administrada. estabelecidas comprem mais autopeças tubeleciam um limite máximo para a re
A taxa de desemprego continuará a de fabricação nacional, pois também sc lação RS/I ISS, a partir do qual o Banco Telebrasil
agravai-sc, mas por fatores que já a vi tomarão mais competitivas face às im ('.entrai passava a intervir no mercado
nham influenciando antes mesmo da portadas (cerca de USS 2,0 bilhões, em vendendo dólares para sustentar a taxa,
reforma do sistema cambial. 1008), que custarão mais caro cm reais, desfazendo-se de recurso das reservas) é jan
A taxa de juros... Alt! a taxa dc juros! que o mercado não consiga manter a taxa
OS DADOS ECONOMICOS DO BRASIL -fev/99
continua sendo a grande procupaçao no flutuando cm torno dc níveis razoáveis.
curtíssimo prazo. Para conter a fuga de 1 )udôs 1 008 1<><)‘>(*) A expectativa é que essa marca con
dólares e manter a demanda interna em PIB (IIS* bilhões) 775,0 751.75 tinue a girar em torno de 20% a 30%
nível que nao comprometa uma taxa dc PIB - crescimento r* i. o 0,5 (0/-U0) acima do ponto de partida em 15 de ja
inflação admínistrávcl, a taxa de juros neiro (digamos RS 1,70 por dólar).Ultra
Inflação
subiu ainda mais, c não é possível pre passado esse limite, o Banco ('entrai
(! ; ív;i» - prends aocoiiMinuilm ) 1,5 7,0
ver até quando continuará a subir. teria que voltar a interferir no mercado
laxa dc desemprego (fí) 7,7 10,0 para estabilizar a taxa.
De acordo com exigências do FMI, o
governo só vai poder reduzir as taxas dc juros Taxa dc juros c-' ) 20.0 23.0 No f r o n t interno, ainda dc acordo
se as reservas cambiais líquidas não caírem Importações (f hllfavs) 53,0 59,0 com os compromissos assumidos com o
abaixo tias metas mensais estabelecidas. Importações (t ssbilhões) 59,5 56,5 FMI, o déficit público tem que despen
Pelos termos do acordo, se as reservas car de 8,3% em 1998, qualquer coisa cm
Balança Comercial -6,7 2.5
líquidas caírem mais do que o projetado torno de 4,7% em 1999; e a dívida pú
Saldo em transações blica líquida deve cair do equivalente
(IJSÍ 6 bilhões no primeiro semestre deste
correntes <US$ bilhões) -34,0 -30,0 cm reais a USS 320 bilhões, cm 1998,
ano), o governo terá que fazer uma restrição
no crédito interno, o que certa mente levará Saldo cm transações para USS 335 bilhões em 1999. Para que
a um maior aumento nas taxas de juros. correntes (% IMB ) -4,4 -4,0 não se agrave o ônus com os serviços des
sa dívida, será preciso que a elevação da
O reflexo mais positivo do novo regi Reservas cambiais
taxa de câmbio (que afetará parte dessa
me cambial é sobre a balança comercial
(1 S$ bilhões) 38,5 28,0 dívida) seja compensada com uma subs
c\ por extensão, sobre o saldo dc transa
'laxa dc câmbio, tancial redução da taxa de juros. Quais
ções correntes. As importações ficam
Rcal/1 )ólar (vurii«,ïH>%) 7,0 25,0 seriam os reflexos desse prognóstico so
mais caras e, consequentemente, menos
V bre a v ariação do PIB em 1999?
atraentes e as exportações melhor remu Déficit público
Antes da alteração do sistema cambi
neradas em reais e, consequentemente, (nominal) (% PIHj) 8,3 4,7
al, nas negociações com o FMI. falava-se
mais competitivas. Km que pese o ce 1 )ívida pública
nário desfavorável do mercado inrerna- na queda de 1 % do PIB no corrente exercí
líquida (US$ bilhões) 320,0 335,0 cio. Após o impacto da medida, os prog
cional, apontando para queda generali
Dívida pública/PIB (%) 41,0 45.6 nósticos oscilam entre 0% e -1%. Tf*
zada da atividade econômica, pode-se
esperar um aumento em torno 10% dc ( q P r e v i s õ o s * Sydney Latini é economista