Page 58 - Telebrasil - Julho/Agosto 1993
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D i á l o g o d o A n j o c o m D e u s
de intcrfcrência (por força do desempenho dc abne
A s mudanças no setor de telecomunicações gados profissionais), caminhando na direção dc
têm ocorrido com uma velocidade tão gran
conquistar (ou reconquistar) qualidade de serviço
de que, todos, antigos c novos, devemos
estar com dificuldades de acompanhar. A chega razoável, com resultados financeiros positivos.
da das telecomunicações ao País, com a criação Ate aqui, não vimos modificação que alteras
do Código Brasileiro de Telecomunicações (Lei se o princípio dc manter os técnicos cm seus luga
4.117/62) e a efetiva implantação de todo um ideá res. Sc houve injunção política na indicação de
rio, trouxe aplausos generalizados pela comunida dirigentes técnicos-operacionais, os indicados sem
de do setor. pre (ou seria quase sempre?) são profissionais da
E verdade que houve muita reação quanto à atividade-fim do setor. Está claro que a atual linha
forma. Não podemos esquecer dos que não aceita de tendência vai prosseguir. Não adianta protestar.
vam a idéia da criação da Embratcl nem dos que O século XXI vai entrar, com as empresas esta
desejavam implantar o Tronco Sul com a Linha bilizadas em nova posição dc equilíbrio, com pri
Física (na maior honestidade de propósitos). A cria vatização, redução de monopólio, diretorias políti
ção do Fundo Nacional de Telecomunicações cas. O setor das telecomunicações vai ganhar co
(FNT) teve o aplauso unânime. L* \ mo um todo, ganhando com isso a sua razão dc
Mas lambem havia os que juravam, na maior ser: o usuário.
honestidade de propósitos, do alto de sua experiência profissio E bom que os dirigentes, com muita influência política, levem
nal, que um tronco de microondas com 960 canais, entre Rio e a seus pares o conhecimento do nosso negócio. Crescerá, ainda
Porto Alegre, não iria ficar ocupado nem no ano 2000 (e já está mais, a nossa importância. Crescerá, ainda mais, o setor, se as
vamos perto do final da década de 60). Tinha que ser tropodifu- autoridades com poder dc decisão no Executivo e no Legislativo
são (acho que com 120 canais). entenderem melhor a posição das telecomunicações como fator
Depois veio a idéia da criação da Tclcbrás. Quanta discordân de integração e dc desenvolvimento.
cia. "Mas sc a Embratcl já eslava operando, com extrema eficiên Quanto tempo lutamos para fazer ver às autoridades que tam
cia, por que criar uma outra? Pura demagogia, cabide de. empregos". bém telecomunicações é parte da infra-estrutura básica, junto a
Lm seguida, a guerra - foi mais ou menos uma guerra, sim - energia e transportes.
da transferência da administração do FNT, da Embratcl para a Se é desejo do Governo promover a recuperação do País sem
Telcbrás, acompanhada de outra batalha, esta contra a repartição recessão, com desenvolvimento, melhor não poderia estar a posi
do Fundo, baixando a participação da Embratcl naquela fonte de ção do nosso setor, porque dirigentes, com acesso ao processo
recursos. Não é preciso dizer o que aconteceu, l odos salxrnos. decisório (os políticos), estão entre nós. Por que não fazê-los en
A Embratcl não ficou falida por perder o FNT. A Tclcbrás re tender nossa Missão, liberando-os para os contatos políticos? Só
alizou a grande "enxugada" nas mais de 2.000 empresas (?) tele iremos crescer.
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fônicas, quase que reduzindo-as a uma por Estado. Ao longo des E verdade que as diretorias das empresas, parece, necessitam
ses anos, a participação da Embratcl foi diminuindo, mas sua po de coordenação, para evitar disputas internas infrutíferas c tentar
sição empresarial ficou mantida. O que dizer dos resultados alcan organizar os projetos dc expansão c melhoria de qualidade. Que
çados? Os que eram contra a todas estas mudanças (nós), "coloca bom seria se, despidos de orgulhos menores, os dirigentes sc sub
mos a viola no saco". As empresas estaduais, a Peles, foram so metessem, funcionalmente, à coordenação de um entre eles. Co
brevivendo. Preocupados com o futuro do setor, sabíamos que mo no tempo cm que havia a figura do vice-presidente, estatuto-
era necessário aglutinar empresas estaduais cm empresas regio riamente profissional de telecomunicações.
nais, para aumentara sua eficiência. O raciocínio era bastante ra Embora não sendo porta-voz dos antigos, ouso conclamar os
zoável. novos a prosseguir discordando, honestamente, daquilo que julga
Havia (c ainda há) empresas que administravam patrimônios rem danoso. Tenham coragem de denunciar focos dc atitudes
da mesma ordem de grandeza, por exemplo, da estação Tiradcn- menores. Não sc acomodem - como fizeram muitos dc nós - an
tes, da Tclerj, em número de terminais telefônicos. Se fossem te pressões que não sejam cxclusivamcnte profissionais no senti
agrupadas, rcgionalmcntc, estaria promovida uma economia de do do fazer bem.
escala, pelo menos nos órgãos de administração, técnicos e opera Longe dc ser porta-voz dos sérios, conclamo os que aderiram
cionais. a procedimentos irregulares a retomar o caminho da correção dc
Ainda no chamado Regime Forte, perdeu-se uma grande opor atitudes profissionais (e políticas). Afinal, todos teremos um dia
tunidade de reduzir o número de empresas-pólo. Foi na transição que prestar contas de nossa atividade. Senão à sociedade, pelo
dos governos Geisel-Figucircdo. Acredito que as lideranças políti menos para evitar que nossos descendentes se envergonhem de
cas que iriam ocupar posições, no início do Governo Figueiredo, nós. Deixemos vir as mudanças. Concordando ou não, são "sinal
concordariam com a regionalização. Teríamos, hoje, no máximo, dos tempos".
uma dúzia de empresas. Insistimos cm não acreditar na veracidade daquele diálogo en
Que dizer da perda do FNT? Acabou, mas o setor prossegue. tre Deus e um Anjo, quando este interpelava o Senhor, por ter
De mudança cm mudança, chegamos ao advento Tancrcdo, dotado o Brasil dc todas as venturas de clima, vegetação, recur
quando os políticos decidiram participar da direção das empresas, sos hídricos, minerais, cm detrimento dc outros países, que so
â semelhança do que já ocorria em outros setores. Gritamos con frem as agruras da natureza adversa. Foi quando Deus disse ao
tra, programou-se seminários, painéis, artigos na imprensa, edito Anjo: "Mas você não sabe o povinho que eu vou botar lá..."
riais, tudo. Como sc não bastasse, veio a onda de desregulamenta- As instituições, superiores às mudanças, irão sempre sobrevi
ção, quebra de monopólio, privatização. Demais, para o entendi ver. O apocalipse não virá. Nosso setor continuará a ser a mola
mento. E estranho, como pareça, o Sistema Tclcbrás continua cres do desenvolvimento.
cendo, com a participação destacada nas Bolsas daqui c de fora.
Nossa observação acerca desse fenômeno, nos leva a conside João Ferreira D urão
rar que o Sistema Telcbrás tem uma solidez estrutural à prova (Membro do Conselho de Redação da Revista TElJLfíRASIL)