Page 5 - Telebrasil - Janeiro/Fevereiro 1993
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editorial
O novo governo tem reiterado que ‘‘a prio
D epois da Era da Esperança, da Era do ridade da Administração é o restabelecimen
Milagre, da Era da Incerteza, da Era da
Modernidade parece que entramos, desta vez, to da confiança e da auto-estima no povo
na Era da Perplexidade. brasileiro, a retomada do crescimento, a cria
Os fatos são por demais evidentes e falam ção de fontes de trabalho e, consequentemen
por si. Caminhamos para o terceiro ano de te, o combate à pobreza” .
recessão. A inflação, a despeito de todas as A essa política interna de governo, agre
teorias e experimentações econômicas, não ga-se sua inserção na economia global co
cede. O desemprego, tornou-se endêmico. mo parte da América Latina, numa sitnação
O problema social, agrava-se. A violência em que não há fórmulas mágicas para o êxi
aumentou, e o crime organizou-se. O Esta to. Quem detém algum tipo de knoyv-how
do é visto como um mal, mas também co tecnológico o terá conquistado por esforço
mo um remédio. Novos e antigos valores próprio e, de um modo ou de outro, se apro
João Carlos estão em questão. A sociedade brasileira, veitará da vantagem conquistada. Acervo tec
Pinheiro da perplexa, procura o seu caminho. nológico significa, por sua vez, gente prepa
Fonseca Breve teremos que escolher, entre parla rada, trabalhando em ambiente propício, o
mentarismo, presidencialismo e monarquia, que nos remete à esfera interna dos proble
(Engenheiro de
que tipo de governo queremos. Segundo as mas a solucionar.
Telecomunicações
pesquisas, os brasileiros interessados pelo Considerada tal realidade, o que se pode
e Jornalista)
tema ainda são muito poucos. Mas a questão esperar do futuro? Segundo as idéias dos
da mudança (ou continuidade) institucional matemáticos modernos — expressas na teo
bate ã porta, sob a forma de plebiscito, no ria dos sistemas caóticos — a maioria dos
próximo 21 de abril. Há pouco, atravessa problemas complexos, como o explosivo cres
mos uma longa, profunda c sofrida crise éti cimento populacional, as condições do tem
ca c política, culminando com a substituição po e a modelagem econômica c social não
do presidente da República. Para espanto acolhem, a longo prazo, uma solução defini
do mundo, com a vitória das instituições de da, por mais pujantes que sejam os recursos
mocráticas. Percebe-se, no entanto, que a computacionais disponíveis. Restaria, apenas,
atenção (ou a paciência?) para a discussão a especulação.
dos grandes temas está se esgotando. Cada E as telecomunicações, como ficam, nes
um, agora, ensimesmado, parece dedicar-se se contexto? Além de possuir dinâmica pró
apenas a procurar sua própria solução para pria, elas atuam como agente integrador da
seus próprios problemas, numa versão tropi sociedade, tator de multiplicação econômi
cal de um liberalismo cuja‘palavra de ordem ca c infra-estrutura essencial ao País. No pla
seria “ salve-se quem puder” . nejamento de médio e longo prazos do siste
Esse comportamento individualista suben ma 'lelebrás estão previstos recursos para
tende o desalento. Cansado de tantos modelos, atingir níveis de investimento em torno de
programas c macrosoluçõcs que não deram 1,5% do PIB. A longo prazo — num siste
certo é natural e compreensível a frustração ma matematicamente caótico — a resolução
do brasileiro. Mas esta parada na perplexida dos temas da privatização e do regime de
de não deverá perdurar. Complexo, grande monopólio fica relegada a uma indefinição.
c desigual, o Brasil é um vastíssimo mar Perplexidade à parte, e para ficar no terre
de desafios c promessas a pressionar solu no das realizações concretas, o sistema Tele-
ções. Um perpétuo estímulo ao fazer.
brás fechou 1992 com 10 milhões e 633 mil
A imagem de que o seu território abriga
terminais instalados — um acréscimo de 833
realidades da Bélgica e da índia — a famo
mil sobre o número alcançado no ano ante-
sa idéia da Belíndia — traduz necessidades
rt°r incluindo 66 mil terminais móveis
fundamentais, que outros países, hoje desen
celulares; investiu US$3 bilhões, mas mante
volvidos, já resolveram. Saúde, educação, ve o País, ainda, com o índice de 7,1 telefo
habitação, segurança e boa distribuição de nes por grupo de cem habitantes.
renda, mais que meros ideais, continuam co
Em 1993, que todos desejamos seja um
mo objetivos viáveis e prioritários. Vontade
ano menos turbulento e com valores mais
política consensual, executada em clima éti
éticos do que os apresentados em 1992, é a
co, contracenando com uma economia saudá
ocasjão de exorcismarmos em definitivo a
vel impulsionada pelas forças da iniciativa
Era da Perplexidade e tomarmos o rumo,
privada e do Estadq, nos levarão, certamente,
confiantes, do verdadeiro desenvolvimento
à nossa almejada — c merecida — socicda- e do bem-estar social: a Era do Terceiro
de do bem-estar.
Milênio.