Page 42 - Telebrasil - Janeiro/Fevereiro 1991
P. 42
Um espaço livre em defesa de idéias
0 h o m e m d o s é c u l o X X I
João Ferreira Durão (*)
Estávamos no uma muito maior quantidade de otários hidráulica e outros que tais e ainda conse- j
restaurante, al a correr de um lado para o outro). Quem gue ser mais barato que o equivalente, j
moçando. Ele já tinha se dado conta disso? Mas ele per em dólares, das nossas “carroças" (a cias- 1
perguntou ao Sr. cebeu esse detalhe, que nos coloca, no sificação não é minha) nacionais, sem ne
X: confirme pa mínimo, na situação de ineficientes, inefi nhum desses “opcionais". E os fabrican
ra mim, a Era cazes e antieconômicos. tes de lá e de cá são os mesmos! 9
Moderna iniciou Prosseguimos, filosofando em torno Aí, não é preciso ser cabeça do Sécu
quando? Com a das teorias do futuro, quando caímos na lo XXI para ficar revoltado.
Ainda sobre carros, é preciso ver sua
kl queda de Cons deliciosa vala comum do “nada dá certo contrariedade com a criação do Pro-Al-
no Brasil”. Ele tentou explicar geografica
tantinopla? O Sr.
X, do alto de sua cultura silenciosa, res mente, com o fatalismo, de estarmos situa cool. "Gasta-se uma fortuna para susten
pondeu que sim. Eu assistia, saboreando dos ao sul do equador, atribuindo à sín- tar só carros de passeio. E sobra gasoli
minha dose de scotch e beliscando. Então drome do Hemisfério Sul a talvez única na para exportar, mas a que preço...” Nes
ele arrematou: pois creia que estamos vi razão “de nada dar certo nesta desafortu sa mesma linha de crítica, veio a história
vendo o final desta Era Moderna. A que nada terra de meu Deus”. do tênis nacional, que custa o dobro do
da dos muros, as aberturas políticas e ide Bem que tentei entrar com aquela his americano do mesmo nome, de qualida
ológicas por toda a parte, a queda de bar tória de "... ao Sul do Rio Grande é tudo de muito superior. Enfim, a situação na
reiras alfandegárias na Europa, a criação igual...”. Ele discordou logo, mencionan cional e o modo de raciocinar do brasilei
de uma só moeda, isso vai significar o en do um artigo que lera em uma Business ro, causam-lhe verdadeiros ataques de de
cerramento da Era Moderna e o início Review tecendo enormes elogios à atual silusão e desencanto.
de uma nova. situação do México, no que foi reforçado Maior ainda é seu desespero ao ver
O assunto divagou para a invasão dos por argumentos do Sr. X, que recém che que a maioria dos interlocutores se o escu
Mouros na Península Ibérica, durante 800 gara de lá. Se o México está fora desta tam, não o ouvem. Não chegam nem a
anos e que só terminou, segundo depoi canalhice, então deve ser mesmo praga discordar. Parece que não entendem o
mento ouvido pelo Sr. X, porque os ára de Hemisfério Sul (um dia ainda vou dar que ele diz e vão saindo de mansinho, es
bes já não eram mais os mesmos; estavam uma olhada em um mapa mundi para tes vaziando as rodas de papo dos coquetéis
desgastados pelo longo convívio com os tar a consistência dessa lei). da vida. Mas e o almoço? Bacalhau, em
portugueses e espanhóis. Enveredamos Ele é extremamente privativista e tor um restaurante (digamos... bom) de Brasí
pelas Cruzadas que, durante cerca de 200 ce por ampla desregulamentação. Enten lia. E verdade que tomamos uma dose
anos, provocaram um enorme intercâm de que o Estado não deve se meter em de whisky escossês e, se bem me lembro,
bio sócio-cultural, com claros benefícios (quase) nada que seja do empresário, por dois comeram frutas de sobremesa.
para a Europa que recebeu, daqueles mes que acaba fazendo mal feito. Recentemen Preço: 160 dólares.
mos desgastados árabes, uma série de be te, no Congresso de Informática da Suce- Mais de 50 dólares por cabeça o que,
nefícios: aprendeu agricultura, melhorou su, "baixou o pau” no atual modelo das convenhamos, é coisa para nível interna
os costumes, iniciou-se na indústria, apren telecomunicações. Disse que ele foi bom cional. Não que Brasília não mereça essa
deu a navegação marítima. no passado, em uma determinada época, glória, mas os parâmetros de mão-de-obra,
Continuou-se a filosofar, quando mas já cumpriu sua missão e hoje está to níveis de salários, escolaridade dos funcio
mencionou meu companheiro de mesa ter talmente ultrapassado. Entrou de raspão nários, qualidade dos materiais emprega
lido — parece que em trabalho de um pelo modelo industrial, incluindo a reser dos, entre outros, deixam pensar bastan- .
cientista social italiano — que nossa civili va de mercado, que serviu para estagnar te. Não estará o nosso personagem cen
zação é tão burra que construiu uma enor tecnologicamente os nossos produtos, en tral coberto de razão quando tenta expli
me quantidade de prédios para ficarem tre outros defeitos que enumera. car essa desgraceira toda com a tal “sín-
vazios durante o dia inteiro e outra enor Durante nosso filosofar de restauran drome do Hemisfério Sul”? J
me quantidade de prédios para ficarem te, o tema industrial retornou à baila, com Nesta breve crônica, fica uma questão
vazios durante à noite (e eu acrescento o exemplo da indústria automobilística; no ar: quem é o homem?
lá fora, o carro tem ignição eletrônica, in Uma coisa é certa: ele não é fictício;
jeção eletrônica, transmissão automática, existe mesmo. 18
ar condicionado (frio e quente), direção
TE L E B R A S IL - Revista D IR ETO R IA DA TE LE B R A S IL Benito Lo-Presti. Gennyson Equipe de Arte:
Brasileira de Presidente: Castro Azevedo, Humberto José Ferreira da Silva
Telecomunicações e Luiz de Oliveira Machado Chagas Pradal, João Carlos P (programação visual)
Informática da Fonseca, João Ferreira Durão. Silvio Sola (MTb. 12.224, DRT RJ)
Diretores: José Luiz Azevedo Valle, José (Diagramador e Produtor)
Armando Luiz Medeiros Raul Allegretti. Josemar da Costa
Uma publicação bimestral da Carlos de Paiva Lopes Comercial:
TELEBRASIL Associação Haroldo Corrêa de Mattos Vallim, Lázaro José de Brito, Gennyson Castro Azevedo
Lenine Rocha. Luiz Eduardo da
Brasileira de Telecomunicações Jayme João Mansur Paulo César Caraça (Contato
Rocha. Luiz Ernesto Krau. Luiz
CGC 42 355.537 0001-14 Oswaldo L. Nascimento F° Mauro Vianna Camargo. Márcio em S.P.)
Salomão Wajnberg Machado Rabello. Raphael Roger Apoio:
Sede: Douek, Roberto Aroso Cardoso,
Av Pasteur. 383 - Urca - CEP E X P E D IE N TE : Aureo Nascimento
22290 Diretor-Responsável Salomão Wajnberg. Solon Composição: Blue Chip
Armando Luiz Medeiros Benayon da Silva.
TH. (021) 295-4432 • TIx (21)
23057 Editor: tedação: Fotolito: Quimicolor Ltda
Rio de Janeiro • RJ João Carlos Pinheiro da Fonseca enner de Paiva
(MTb. 12.886/DRT/RJ) VITb 12.009/DRT/RJ) Impressão:
Secretário Executivo: Copycemro Gráfica
Conselho de Redação: oão Carlos Pinheiro da Fonseca
Gcnnyson Castro Azevedo Laboratório Fotográfico:
Antonio Martins Ferrari, MTb. 12.886/DRT/RJ)
Armando Luiz Medeiros, Andrea Wanda
Teiebros-; Jcn ,-e\