Page 7 - Telebrasil - Janeiro/Fevereiro 1987
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e d i t o r i a l
M i t o s e R e a l i d a d e d a s
T e l e c o m u n i c a ç õ e s
Luiz de Oliveira Machado
(Diretor da Telebrasil)
Todos aqueles que têm a oportunidade de toriais, mas um fim em si, citado com ênfase em
participar da gestação de uma política ou re todos os pronunciamentos de autoridades e
gulamentação complexa, e depois acompanhar palestras de seminários. Não se discute a que
a sua operacionalizaçào, ficarão surpresos ao custo, com que consequências para os serviços:
verificar como, inúmeras vezes, o ritual da buro novamente uma distorção de perda das origens.
cracia somado aos conflitos de interesses e à Vários outros problemas do setor poderiam
perda da referência às origens levam a medidas ser examinados sob o mesmo enfoque: a defini
que se afastam, e não raro se contrapõem, aos ção de "empresa nacional”, em grande evidência
objetivos originais. em conseqüência da Lei de Informática, o con
Tomemos, como exemplo, a questão da polí ceito de "projeto brasileiro”, os chamados com
tica industrial: formulada e gerenciada por ponentes ou produtos "preferenciais”. Uma exe
vários órgãos, com diferentes premissas, perde, gese desses conceitos, à luz dos objetivos setori
quase sempre, a referência ao que deveria ser o ais, poderia conduzir a uma simplificação de
seu objetivo essencial, qual seja o de estabele procedimentos, evitando dispersão de esforços e
cer, para os elementos do sistema produtivo, as protecionismos ou discriminações indevidas, le
regras estritamente necessárias para que, den vando à melhoria da produtividade do setor
tro dos princípios de competitividade, tenhamos como um todo. Se uma questão é tão complexa
os melhores recursos para prover bons serviços que não conseguimos resolvê-la, vale a pena
a custos razoáveis. Os fornecedores muitas ve . examinar se o problema está corretamente for
zes contribuem para complicar a questão, pois, mulado.
se às vezes clamam por regras mais detalhadas,
quando isto contribui para mantê-los em boas Constatada a degradação dos serviços no
posições de mercado, além de dispensá-los de ter Brasil, o setor de telecomunicações, traumati
que planejar sua própria estratégia empre zado pela constatação de que não é mais aquela
sarial, em outros casos contestam o excesso de ilha de prosperidade, tem se dedicado obsessiva
regulamentação e o dirigismo, quando uma mente à luta pela retomada dos recursos neces
política mais liberal possa lhes dar acesso a um sários ao seu desenvolvimento. Tal problema,
mercado do qual estão alijados. entretanto, conquanto vital, não deve ser o
Outro bom exemplo é o da tecnologia, carac único a ocupar nossa atenção. Não podemos per
terizado pelo objetivo de "capacitação tecnoló mitir que a conscientização de que não podemos
gica” como tem sido constantemente enfatizado. fazer tudo nos leve à conclusão de que não pode
Quando começamos a tratar este assunto de mos fazer nada. O clima de volta às origens pro
forma planejada, no início da existência da 1 ele- vocado por Cleofas Uchôa em seu instigante
brás, questionava-se a sua própria pertinência: ensaio sobre pedomorfose, publicado nesta edi
por que deveria uma empresa "holding’ de ção da Revista Telebrasil, pode levar a uma ca
operadoras telefônicas preocupar-se com isso? tarse do nosso setor, em que a busca de maior
Predominavam o desconhecimento sobre o pa produtividade venha a contribuir para o encon
pel reservado à tecnologia e o ceticismo quanto tro de uma nova identidade, a partir da qual se
aos resultados de um esforço de Pesquisa e De possa progredir em outro patamar.
senvolvi mento, justificando-se, assim, a Questionar nossas realidades, confrontá-las
omissão. com as origens, identificar problemas concretos,
Hoje, quatorze anos depois, o objetivo tec derrubar os mitos que consomem improdutiva
nológico virou uma premissa que não admite mente nossos esforços, eis a proposta para um
questionamento. O domínio da tecnologia não é amplo debate, a ser desenvolvido no XVI Painel
mais um meio para se atingir aos objetivos se- Telebrasil.
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