Page 39 - Telebrasil - Setembro/Outubro 1983

Em fevereiro último, a Multitel definiu lar, onde já começa a ser refeito o orçamen­

seu orçamento para este ano e encaminhou to da empresa. A exportação é item impor­

à Telebrás um pedido de solução do impas­ tante — representa, atualmente, 10 por cen­

se em que se encontrava. “Até agora não re­ to do faturamento. Assim, a Multitel come­

cebemos resposta. Precisamos saber se es- ça a intensificar os canais para ampliar seus

>a política, que leva ao monopólio, será man­ principais mercados e parte para a conquista

tida pela Telebrás. Como nada nos foi dito, de novas alternativas, “que poderão dar ex­

teremos de articular providências à luz da celentes resultados a médio prazo”, como

falta de definição, para evitar danos maio­ a venda de tecnologiq para a China e o Egito.

res à indústria”. “A política industrial tem de ser checa­

Ele prevê conseqüências como a redução da permanentemente. O setor de telecomu­

do número de empregados que, na sua opi­ nicações é organizado, mas a demora nas so­

nião, além do problema social, provocaria luções está provocando decisões apressadas

um retrocesso do setor, com a perda da tec­ por parte dos empresários. Parar a produ­

nologia. “A tecnologia não está nos dese­ ção não representa saída para a crise, pois

nhos e projetos, mas no homem que adqui­ a empresa tem a obrigação social de gerar

riu e desenvolveu seus conhecimentos e téc­ tecnologia, criar empregos, oferecer produ­

nicas ao longo do tempo. Por outro lado, a tos confiáveis e a obrigação econômica de

política da Telebrás poderá impedir que um dar lucros e justificar os investimentos dos

grupo sério de vocação industrial, como o acionistas. O que estamos defendendo é o di­

Cataguazes-Leopoldina, participe do setor reito à livre concorrência. Não pleiteamos

de telecomunicações”, reserva de mercado, mas reconhecemos que A M ultitel é a única empresa da A m érica L a tin a a

Para buscar alternativas ã crise, Carlos é inviável concorrer* com a reserva para uma produzir circuitos a film e espesso, cuja fabricação
inclui processos sofisticados como fom os com 8 5 0
Infante de Castro incorporou ao gabinete on­ única eVnpresa”, concluiu Carlos Infante de graus de tem peratura e ajustes sengrafados através

de trabalha o seu microcomputador particu­ Castro. do laser.

A v i s ã o d e u m e m p r e s á r i o

A Companhia Força e Luz Catagua­ um contrato de venda de equipamentos e Na sua opinião, a China Continental é

zes-Leopoldina, que constitui a base do tecnologia para a China, dentro de um pa­ um dos mercados mais promissores da

Sistema Cataguazes-Leopoldina, é uma cote da GTE americana, em que a Multi­ atualidade: “A China não deve um tostão,

das mais antigas concessionárias de ener­ tel figura com destaque. Na primeira fase, tem reservas fortes em dólares e apresen­

gia elétrica do País. Fundada em 1905, ini­ os aparelhos serãoproduzidos aqui, para ta superávit na balança, com direito a cré­

ciou seus serviços operacionais em 1908, serem testados na China; depois, serão ex­ dito de um bilhão e meio de dólares do Ban­

com 800 Kw de potência, fornecendo ener­ portados k i t s para montagem, seguidos de co Mundial. Eles estão querendo, agora,

gia elétrica a quatro municípios de Minas. componentes. Todo esse processo de recuperar o atraso tecnológico. Se levar­

Hoje, a empresa dispõe de um potencial transferência de tecnologia inclui treina­ mos bons produtos, o sucesso é garan­

instalado de 56.000 Kw, que permite o mento, para que a China, num prazo mé­ tido”.

atendimento de 100 mil instalações de dio de três anos, possa produzir seus equi­ Para Ivan Botelho, a sua viagem pode­

energia elétrica na Zona da Mata mineira. pamentos de telecomunicações. “E não é ria ser sintetizada em um símbolo: o povo.

A Companhia iniciou sua fase de diver­ só a China que tem esse potencial enorme. “Nenhum país se torna potência sem que

sificação em 1971, com a entrada no setor Já estamos entrando em negociações com seu povo o seja”

têxtil. Hoje alia à geração e distribuição de o Egito para a venda de tecnologia nos Nas empresas controladas pelo Siste­

energia elétrica a participações societárias mesmos moldes. No Cairo, a proposta é ma Cataguazes-Leopoldina, que empre­

em diversas empresas, além da Multitel. exclusivamente nossa, sem ligação com a gam cerca de 5.000 pessoas;a política de

São elas: Multitextil (fabrica fios de algo­ GTE americana. Aliás, uma de nossas me­ valorização de pessoal é um dos itens mais

dão e controla a Multifabril Indústria Têx­ tas principais é a total independência de importantes. O grupo foi um dos primei­

til, que produz fios e tecidos), Multidigit nossos sócios”, explicou Ivan Botelho. ros a criar um fundo privado de pensão,

(fabrica periféricos para computadores), com complementação para aposentadoria

Multiserv (recupera sucata em usinas si­ A experiência na China e auxílio doença, entre outros benefícios.

derúrgicas) e Multipar (presta serviços de Na Companhia, funciona um clube para os

assessoria e análise de projetos, e contro­ A viagem à China, realizada em maio empregados e suas famílias, com quadras

la a Multipar Corretora de Seguros). • último, deixou profundas impressões em de esportes, além de uma escola para filhos

Ivan Müller Botelho, presidente da h o l d ­ Ivan Botelho: “Tanto na China comunis­ de funcionários até a quinta série do 1?

i n g s do Conselho de Administração de to­ ta quanto na capitalista pude observar uma grau,, onde se fornece, inclusive, todo o

das as empresas do grupo, também se de­ grande lição de vida: qualquer regime, por material escolar. Há também assistência

clarou preocupado com os efeitos da Por­ mais oposto que seja, pode e deve ter co­ médica gratuita e uma caixinha beneficen­

taria 203 do Minicom sobre a Multitel, mo objetivo final o bem-estar do povo. E te, que subsidia a compra de remédios para

“que torna o esquema de concorrência al­ é esse objetivo que deve orientar todas as os empregados. “Essa política está muito

tamente indesejável, por desestimular as decisões, a nível de governo, de política e bem realizada no interior, onde funciona

empresas que têm tradição no setor e, em até de empresas”. a Companhia Luz e Força. Nossa idéia é

última análise, por onerar o bolso do povo “O homem precisa ter garantido o seu estendê-la a todo o grupo”, informou.

com um produto mais caro” direito ao trabalho, à educação e à saúde. “Valorizar o empregado não é dar van­

Para ele, a saída é conquistar novos Na China, pude ver isto de perto: são um tagens, que acabam tirando a dignidade do

mercados, a fim de evitar que a crise alte­ bilhão e 50 milhões de habitantes que co­ homem, mas oferecer a ele o direito de

re a estrutura interna da Multitel. “Nos­ mem, moram, recebem educaçãò, traba­ conquistá-las. A crise está aí, corroendo tu-

sa preocupação básica é gerar empregos lham e se mantêm em ordem. E claro que do. M anter unida a família Catagua­

ou, no mínimo, manter o nível de empre­ há a contrapartida: a inexistência de lazer zes-Leopoldina é uma tarefa exaustiva,

go nas fábricas” Entre as perspectivas e conforto da vida moderna, mas os direi­ mas possível. Esta é a nossa grande preo­

que se abrem no mercado externo, figura tos são garantidos” — disse o empresário. cupação”, concluiu Botelho. i r

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