Page 91 - Telebrasil - Novembro/Dezembro 1982
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o p e r a tó r io ; o concreto como o simbólico, onde apenas o signifi O nível dois é aquele justamente que pode ser objeto da teoria
c a d o extensivo e o significante coincidem; o simbólico propria da informação, em que podem ser cientificamente tratados os
mente dito será aquele em que as três entidades podem diferir problemas de ruído, distorção e atenuação, problemas funda
entre si. Deste modo, designaremos o lógico como simbólico ní mentais da comunicação e que se busca resolver com os recur
vel 0, o concreto como simbólico nível 1, e as três subespécies sos técnicos da telecomunicação.
simbólicas, denotativa, conotativa e absoluta, respectiva
mente, por simbólicas níveis 2,3 e 4. O nível simbólico conotativo caracteriza-se pelo "excesso” de
referentes em relação aos significantes, o que acarreta a im
Consideramos inicialmente a variedade lógica ou simbólica possibilidade de estabelecimento de uma correspondência biu
nível 0. Só podendo existir, como assinalamos, em forma nívoca entre os significados extensivo e intensivo. Isto ocorre
operatória, torna-se comunicação necessária, imperturbável quando o mundo dos referentes é praticamente inumerável e,
por qualquer que seja o modo. E comunicação absolutamente portanto, incomensurável com o conjunto dos significados in
sem atenuação, sem ruído, sem distorção. Merece especial tensivos ((arranjo de signos permitidos pelo conjunto finito das
atenção a comunicação do ser consciente. Esta, tradicional regras de sintaxe), que é sempre numerável.
mente, só é tratada em âmbito religioso. No cristianismo está
representada pela Revelação do Pai por seu próprio modo, vale Em tal circunstância a comunicação só é possível mediante um
dizer, constitui-se na enfaticamente afirmada semelhança do mecanismo de regulagem entre uso (uso referencial) e código
Homem a Deus. Temos de distinguí-la da Revelação mediada normativo (dicionário e regras gramaticais). Obviamente tal
pelo Cristo, que é de natureza simbólica, portanto suscetível regulagem se dá no tempo e é impossível, a qualquer mo
de ser obstaculizada pelas próprias presenças e ações do Cris mento, afirma-se a perfeita correspondência entre significa
to; enfim, é a revelação de Deus como Espírito Santo. Voltando dos extensivos e intensivos. Em contrapartida, aparece a ines
à semelhança do Homem a Deus, verificamos que ela é absolu gotável capacidade de conotação linguística que, por si, deter
ta, ato de amor divino que intencionado, necessária e imedia mina a própria evolução da linguagem, obviamente, enquanto
tamente realiza a comunicação, isto é, a própria criação do Ho subsistir o mecanismo regulador. A linguística sincrônica
mem como ser consciente. • ,
tenta o impossível "corte”, no tempo das linguagens naturais
— que são todas dessa espécie — porém, apenas terá êxitos
A comunicação simbólica absoluta ou de nível quatro também parciais, dada a conhecida impossibilidade de formalização to
é tratada em âmbito religioso: trata-se da comunicação em lin tal destas linguagens (dependentes de contexto). Neste nível,
guagem cuja metalinguagem coincide absolutamente com a necessariamente, independentizam-se, relativamente, sin
própria linguagem, vale dizer, que está além das restrições im taxe e semântica.
postas pelos teoremas de Gõdel (3). Consequentemente, tra-
ta-se de uma linguagem incompreensível e inacessível ao Ho
mem: é a linguagem da criação, a Palavra de Deus que cria o Este é também o mundo das matemáticas, linguagens que bus
mundo. Do ponto de vista do Homem, trata-se da comunicação, cam a compatibilização, em último grau, entre o extensivo
de fato, impossível. As linguagens do Homem, em especial as (conjuntos) e o intensivo (determinado por um coiyunto finito
teorias, dam-lhe condição de criar apenas diferencialmente, de axiomas). As matemáticas — consideradas apenas aquelas
vale dizer, de modificar o mundo criado. que incluem uma extensão maior ou igual à aritmética — ne
cessariamente guiadas pela intuição, levam ao máximo tal
Os três outros tipos de comunicação são os possíveis para o Ho compatibilidade, bloqueada, entrementes, em última instân
mem. O nível simbólico um ou Concreto é o das interações do cia, pelo que estabelecem os teoremos de Gõdel.
mundo espaço-temporal, mundo da comunicação imperativa; é
isto que se quer dizer quando se caracteriza a ciência como lei O nível simbólico três, por suas possibilidades conotativas, é o
tura, leitura do livro que é a própria natureza. Este enfoque mundo que se abre à expressividade: aí vivem o conto, o ro
começa a ser popularizado na prática da ciência atual, com mance e, em especial, a poesia.
bons resultados aliás, pelo que permite mobilizar, em termo de
técnicas de tratamento da informação e de comunicação, em O quadro abaixo busca resumir os principais conceitos aqui
benefício da decifração dos "dados”, vale dizer, das mensagens tratados, tomando por referência a linguagem absoluta ou da
da natureza. As leis naturais passam a ser consideradas como criação. Esta, está além de qualquer cientificidade, sendo ape
gramática da natureza. nas acessível de uma vez, um salto, à fé religiosa ou precária e
aproximadamente, sempre, à razão filosófica insistente.
Vejamos agora o nível simbólico dois, aquele que pode já ser
considerado propriamente simbólico. A este nível aparece o
que denominamos código, correspondência entre significante Para ganharmos a cientificidade, de algum modo, algo terá
e referente ou significado extensivo. Neste nível apenas admi que se perder e, para isso, temos uma dupla opção. Podemos
timos conjuntos finitos ou numeráveis de referentes, de modo tomar o caminho da história (já conhecida) das linguagens na
que se possa assegurar uma correspondência biunívoca entre turais e do próprio edifício inconcluso das matemáticas: é o ca
significantes, simples ou compostos, e os referentes. Nestas minho da diacromia; aqui podemos abordar a história das lín
condições também existe uma correspondência biunívoca en guas naturais, a etimologia, etc. Nestas circunstâncias, con
tre os significados extensivos e intensivos, estes últimos toma servamos da temporalidade apenas parte, o passado, tempora
dos como o conjunto de símbolos equivalentes ou significante, lidade "desenrolada”. O segundo caminho exige que, a priori,
formados de acordo com as regras da sintaxe da linguagem se extirpe a temporalidade — correlato objetivo da consciên
considerada. cia, isto é, a transcendentalidade do ser — do cerne da lingua
gem da criação. É o caminho do sincrônico. A partir da lingua
Sintaxe e semântica equivalem-se, de modo que a comunica gem absoluta, subtraindo-lhe a transcendentalidade ou equi
ção pode focalizar apenas os níveis um e dois é que, neste úl valentemente, a temporalidade, chegamos ao mundo das lin
timo, os símbolos ou mensagens pertencem necessariamente a guagens com potencialidades conotativas. Destas, subtrain-
um conjunto pré-determinado, finito ou infinitamente nu do-lhes ainda a náo-numerabilidade dos referentes chegare
merável (talvez possamos incluir ainda os conjuntos gerados mos ao nível das linguagens de código biunívoco. Se subtra-
recursivamente). No nível um o sinal não preenche tal condi ir-nos destas últimas o código, vale dizer, a correspondência ló
ção, de modo que o receptor, isto é, sentido humano ou instru gico-convencional entre mundos dos significantes e dos re
mento de medida, é considerado, em primeiro lugar, como vir ferentes, estaremos já no nível do concreto. Por fim, se sub
tualmente contínuo, e, em segundo, pode ter, eventualmente, trairmos deste a materialidade, alcançamos o lógico, mais exa
seu "range” excedido pelo valor (intensidade) do sinal. tamente, o lógico formal. )